* Advogado, professor da Escola de Direito da PUCRS e da FMP
Um aspecto preocupante da crise política atual, além da apropriação do Estado por políticos mancomunados com empresários corruptos, é a debilidade da sociedade civil. Não se vislumbra articulação popular suficiente para superar o sistema político estabelecido.
A rejeição, pela Câmara dos Deputados, à denúncia apresentada contra o presidente Temer denota um inaceitável descolamento da classe política em relação à sociedade. E, em conjunto com o nível de corrupção revelado pela Lava-Jato, coloca em dúvida a democracia brasileira. Os partidos de oposição querem de fato depor o presidente Temer? Ou, de acordo com os seus interesses cartoriais, seria conveniente ver o seu desgaste diante das denúncias que desacreditam seu triste governo?
O procurador-geral da República promete mais acusações, que igualmente serão apresentadas à Câmara dos Deputados. Essas novas denúncias tendem a ser rejeitadas. Se os diálogos do presidente e a tragicômica cena da mala carregada pelo então deputado Rodrigo Loures não foram suficientes para convencer os parlamentares da necessidade de se investigar o presidente, o que seria?
Enquanto isso, reformas hostis à população são aprovadas por um Legislativo preocupado em cercear a atuação da Operação Lava-Jato para, ancorado em indevidas prerrogativas, se manter no poder. E tramam, diante do silêncio e da desesperança das ruas, a implantação de um já derrotado parlamentarismo. O sistema de governo precisa ser reformulado. Mas, no quadro atual, é oportunismo. E talvez revele o sonho da classe política, que afastaria de vez o povo da escolha direta de seu representante. Deve ser o instinto de sobrevivência da corrompida elite brasileira, que delegaria ao Congresso Nacional a tarefa de escolher o primeiro-ministro. Ao fim e ao cabo, antes de qualquer reforma política, é preciso uma nova cultura política, que liberte a sociedade civil do venal sistema representativo brasileiro.