A crise política brasileira está claramente longe do fim. Depois de momentos turbulentos de grande incerteza, o que prometia ser um período mais calmo de transição tomou um curso radicalmente diferente com o aprofundamento das investigações de corrupção. Cada vez mais, pessoas entram no rol de acusados por, de alguma forma, se beneficiarem ilicitamente do Estado, ou melhor, do resto da população. As proeminentes lideranças envolvidas dão pistas da gravidade do problema.
Após décadas nas quais o interesse ou envolvimento com a política remetia a algo sujo, as pessoas, aos poucos, vão se dando conta do impacto real que ela tem em sua vida e nos rumos do país. Se antes parecia distante do dia a dia, acabou materializando-se na forma de uma crise política e econômica sem precedentes. O cenário que vivemos, ocaso direto do modelo democrático brasileiro, serviu para despertar uma mudança fundamental de comportamento da sociedade.
A reconciliação que precisamos ver, contudo, não é apenas com a política, mas com o próprio conceito de cidadania. Afinal, por mais que os valores pareçam ter se invertido nos dias de hoje, a origem do poder é a sociedade, e não o Estado. São diversos os papéis que precisam ser desempenhados e cada um precisa encontrar o seu. Um voto qualificado, com conhecimento das ideias e propostas do candidato, é apenas um tímido primeiro passo para participar da vida do país. Encontre uma ideia na qual você acredite e envolva-se de verdade. Dê o seu apoio, seja com tempo ou recursos, e ajude a fazer a diferença.
A democracia brasileira, com seus poderes não muito bem separados, com sua centralização quase absoluta na tomada de decisões e, também, com representantes que convenientemente não têm um eleitorado delimitado para prestar contas, está nos entregando exatamente o que poderíamos esperar. Uma ampla reforma no sistema é imprescindível para buscarmos um país mais próspero, mas isso só ocorrerá partindo da sociedade. A democracia representativa não é justificativa para nos abstermos da participação dos rumos da coisa pública. Justamente o contrário, é a motivação para o fazermos.