O presidente Michel Temer conseguiu escapar da cassação no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas a decisão está longe de assegurar um mínimo de estabilidade política ao país até 2018. No Congresso, a prioridade do Planalto nos próximos dias será evitar que prosperem a denúncia criminal por parte da Procuradoria-Geral da República e os pedidos de impeachment, hoje em número elevado. Nesse cenário, questões centrais, como as reformas econômicas, acabam se transformando em instrumentos de interesse pessoal de políticos e governantes. A situação só não se mostra mais grave porque, apesar de os poderes estarem em guerra, entre outras razões, por divergências sobre como avançar no combate à corrupção, a estabilidade institucional se mostra preservada.
Mesmo diante da constatação de que, em boa parte, a política brasileira se financia à base de propinas e favorecimentos, evidenciada com o mensalão e ampliada agora com a Lava-Jato, o país real consegue se manter em atividade. O Banco Central, que precisa continuar blindado contra quaisquer influências políticas, faz a sua parte para evitar prejuízos ainda maiores à economia. As investigações sobre denúncias de corrupção prosseguem por parte do Ministério Público e da Polícia Federal, o Judiciário se mantém atuante. O que falta é os políticos e homens públicos colocarem o Planalto e o Congresso a serviço não da salvação de mandatos, mas dos interesses do país.
Infelizmente, o avanço de reformas com potencial para destravar a economia, acenando com uma perspectiva de retomada dos investimentos, do emprego e da arrecadação, está na dependência do governo e dos parlamentares, hoje em processo acelerado de perda de credibilidade. É importante que o avanço nas mudanças nas áreas trabalhista e previdenciária não seja visto apenas como sinal de capacidade de reação de homens públicos encrencados. Essa é uma necessidade real para garantir um futuro de mais estabilidade política e econômica para os brasileiros.
Nessa travessia difícil, cresce o papel das instituições, que precisam se manter vigilantes no cumprimento de suas atribuições específicas, zelando pela obediência à Constituição. O país pagaria um custo elevado demais se, à crise política e econômica, se somasse também uma de ordem institucional.