O clima emocional que predomina na arena pública do país está gerando uma distorção. O depoimento de Lula, previsto para esta quarta-feira, virou pretexto para uma disputa estranha à racionalidade exigida pelo processo judicial.
Nesse palco artificialmente armado, interesses camuflados medem forças. As feridas do impeachment, ainda não cicatrizadas, voltam a reclamar atenção. É improvável que, do ponto de vista processual, haja qualquer grande novidade na audiência, a não ser que alguma das partes tire da cartola uma surpresa ilegítima, construída com o fim de desestabilizar ainda mais o já conturbado processo da retomada da normalidade política e institucional.
Lula é o personagem emblemático da trama que mobiliza o país. O presidente mais popular da História do Brasil envolto em denúncias graves de corrupção. Justamente por isso, é preciso cuidado. Respeitar todos os passos do processo, garantir amplo direito de defesa e julgar com base em provas concretas são prerrogativas aplicáveis a todos os cidadãos, independentemente da sua posição social.
O juiz Sergio Moro tem conseguido navegar em meio às turbulências. Hoje, tem um grande desafio pela frente. O que acontecer nas ruas de Curitiba pode interferir não apenas no futuro de Lula, mas nos destinos da Lava-Jato e do Brasil. Só a normalidade democrática, através do livre direito à manifestação pacífica e da independência do Judiciário, recolocará o Brasil no rumo do crescimento, da paz social e do otimismo.