Imagine que loucura seria viver em um país onde o presidente da República tenha de tomar a decisão de demitir um assessor especial da Presidência porque ele amanheceu preso pela Polícia Federal. Suponhamos a cena numa repartição. O chefe chega, questiona o superior imediato sobre o atraso do funcionário e esbraveja que o Brasil não pode parar.
O tempo passa, o funcionário não aparece e o chefe decide ligar para a mulher do funcionário para saber se ele já saiu de casa. Para a sua surpresa, a esposa relata que ele saiu, sim. E bem cedo. Em um carro preto, com vidros escuros. Acompanhado? Sim, por vários homens da Polícia Federal.
Agora imagine que doido seria se esse homem tivesse sido levado pela Polícia Federal por conta de uma investigação que envolve uma obra pública. Vamos supor que seja uma obra superfaturada. Algo que, sei lá, envolvesse governadores, vice-governador, deputados e empresários dispostos a corromper agentes públicos e depois passear em Nova York.
Forcemos um pouco mais a imaginação. Suponhamos que numa reunião alguém sugerisse turbinar essa reforma com R$ 100 milhões a mais em aditivos. A proposta é apresentada em reunião na calada da noite. Um integrante do grupo fica constrangido.
Quem sabe um pouco menos, para não dar na vista? Alguém pede a palavra e dispara em brado retumbante: Vamos turbinar com R$ 900 milhões! O colega ao lado rubra. Alguém que chega atrasado decide chancelar a proposta. O superfaturamento vai chegar próximo de R$ 1 bilhão.
Avancemos.
Então suponhamos, em um exercício de ficção, que essa obra superfaturada seja um estádio de futebol. Sim, vamos imaginar que seja um estádio de Copa do Mundo, afinal todo mundo gosta da Copa – em que pese o 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil. Para turbinar essa obra em R$ 900 milhões terá de ser um grande estádio, imaginemos. Todos de acordo? Sim. Vamos fazer um grande estádio do futebol. Para escoar a propina. Onde? Na capital do país. Mas lá não tem futebol, pondera um senhor grisalho sentado com uma mala preta onde apoia o pé direito. O colega pergunta o que tem na mala. Ele responde que não sabe. Um terceiro homem entra na conversa, irritado, e diz que tem um outro compromisso ainda naquela noite, fora da agenda oficial. Sob pressão, fecham a ideia de reformar um estádio para aproximadamente 70 mil pessoas bem próximo ao Congresso Nacional.
Agora imagine que ao lado desse senhor cansado, nessa mesma reunião, estivesse um ex-governador. Um não, dois, que é para dar um pouco mais de distância da realidade. Vamos ficcionar que esse ex-governador já tivesse violado o painel eletrônico do Senado. Mais do que isso: que tivesse sido preso em um escândalo de desvio de recursos públicos cuja fé na roubalheira era tão grande, que integrantes se reuniam para agradecer pela propina. Agora vamos supor que esse outro ex-governador também tenha feito algumas estripulias. Suponhamos até que tenha ido parar em um inquérito, investigado na Suprema Corte do país por desvios durante seu período à frente da Agência de Vigilância em Saúde.
Imaginou?
Agora imagine que o deputado Paulo Maluf foi preso por ter sido condenado a sete anos, nove meses e 10 dias de prisão, em regime fechado, pelo crime de lavagem de dinheiro ligado a sua gestão na prefeitura de São Paulo. Não foi. Ele ainda terá direito a embargos infringentes no Supremo Tribunal Federal.