As últimas semanas têm sido pródigas em manifestações que denotam a perigosa ausência de espírito democrático em muitos agentes políticos. É preocupante ver nas redes sociais um juiz defendendo o fechamento do Congresso Nacional, um parlamentar defendendo o delito de "hermenêutica", agentes políticos objetivando sua própria impunidade, seja quando se corrompem, seja quando abusam do seu poder de investigar e acusar. E, o mais grave, é lamentável ouvir vozes que ainda defendem o cerceamento da liberdade de imprensa e a volta de um regime autoritário.
Em outra ocasião, já referimos que uma democracia autêntica deve ter requisitos fundamentais, para que não pereça: independência judicial, separação das atividades de acusar, julgar e legislar, harmonia entre os poderes, liberdade de imprensa e de manifestação, e, também, garantias, para que os órgãos acusadores e as defesas exerçam as suas funções de maneira igualitária e altiva.
Se o Brasil quer ser de fato uma República sem privilégios, ninguém pode estar acima da lei. Ninguém, nem o político corrupto, nem a polícia que o investiga, nem aquele que o acusa, nem o juiz que o julga e, tampouco, o advogado que o defende. E nem a imprensa, que deve fazer uso da sua liberdade com prudência, coragem e ética, especialmente diante do espetáculo deplorável que se vê nas redes sociais e em algumas mídias alternativas, propagadoras de notícias falsas e sensacionalistas, como se fossem autênticas.
Não podemos permitir que a herança democrática de 1988, conquistada com tantos sacrifícios e esforços, seja dizimada pelo desequilíbrio, sanha de poder e pelos privilégios de poucos agentes políticos, desprovidos de serenidade, de valentia e de integridade pessoal.
Todos somos homens e mulheres com virtudes e defeitos, mas tenhamos, ao menos, a coragem e o otimismo de dizer que só pela democracia enfrentaremos a corrupção e o abuso de poder, para afirmar de uma vez por todas uma nação sedenta por liberdade, igualdade e solidariedade.