O episódio judicial envolvendo promotores públicos e familiares das vítimas da boate Kiss merece um tratamento mais humano e menos inflexível. Mesmo reconhecendo-se o direito de qualquer cidadão, promotores inclusive, recorrer à Justiça, é notório e injusto o desgaste que tais ações individuais produzem sobre o conjunto do Ministério Público. Quem move uma ação do gênero contra quem sofreu o impensável deve, no mínimo, deixar em aberto a possibilidade de reconciliação com as vítimas e com a própria opinião pública.
Por mais que, de ambos os lados, todos tenham suas razões, o impasse cria uma situação incômoda e indesejável. De novo, a tragédia da Kiss deverá atrair atenção internacional para Santa Maria e o Brasil. E, infelizmente, não pelas providências adotadas para que tais ocorrências nunca mais se repitam, ou pela punição exemplar de seus responsáveis, mas sim pela absurda e inexplicável possibilidade de os pais das vítimas serem punidos antes dos réus do processo original.
O caso Kiss, que resultou em 242 mortes e centenas de feridos devido à leniência, irresponsabilidade e até mesmo conivência de quem deveria ter feito valer a lei com fiscalização preventiva, jamais poderá ser encarado como normal. Não se pode querer que pais e parentes de vítimas da imprudência oficial ajam sempre de forma comedida ou renunciem a manifestações de inconformidade com o ocorrido.
Fará bem a todos um acordo conciliatório entre as partes em litígio nesse episódio das ações por calúnia e difamação. É em relação aos responsáveis pela tragédia que deve haver rigor e punição – e logo.