Ganhou destaque no noticiário nacional a manifestação do ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, reconhecendo que o governo deu o cargo de ministro da Saúde ao deputado Ricardo Barros em troca do apoio do Partido Progressista (PP) no Congresso Nacional. Padilha apenas detalhou, em pronunciamento gravado durante evento da Caixa Econômica Federal, em Brasília, uma típica prática da gestão pública brasileira, na qual, a rigor, não há irregularidade. Há, entretanto, a constatação de que as relações entre Executivos e parlamentos brasileiros, como ocorre desde a redemocratização, são contaminadas pelo vírus do fisiologismo, cujas causas vão da promiscuidade entre poderes ao excesso de partidos e, principalmente, à falta de programas partidários coerentes e consistentes.
A realidade do distorcido presidencialismo brasileiro é que, se abrirem mão de ministros indicados por partidos, governos não obtêm base para aprovações no Congresso, paralisando o Executivo. Os congressistas sabem disso e costumam manter o Executivo refém de seus interesses políticos e partidários. Esta deformação da administração pública só será corrigida com uma profunda reforma política, com restrições à criação de partidos, com a redução das estruturas públicas e, principalmente, com a conscientização dos eleitores.
O pragmatismo dos governos pode até ser necessário para a governabilidade nesse estranho presidencialismo de coalizão brasileiro, que fragmenta o poder entre múltiplos interesses partidários. Mas ficaria menos pernicioso para a sociedade se houvesse menos agremiações políticas, menos postos na administração pública e menos disposição de consecutivos governos para transigir diante da chantagem dos partidos.