O presidente Michel Temer garantiu ontem, em pronunciamento à nação, que o governo não está promovendo a blindagem de ninguém em relação à Operação Lava-Jato. Na mesma fala, comprometeu-se a afastar provisoriamente ministros que venham a ser denunciados pelo Ministério Público e em definitivo aqueles que tiverem a denúncia acolhida pela Justiça, transformando-se em réus. Embora não tenha citado nominalmente Moreira Franco, para quem acaba de criar um ministério, lembrou que a "simples menção inauguradora" não pode ser suficiente para incriminar um ministro.
Tem razão o presidente da República. A simples menção de um político por delatores não significa que o citado tenha mesmo praticado alguma irregularidade. Vale para o próprio Temer, que já foi mencionado em depoimentos de investigados, e também para Moreira Franco, citado 34 vezes por delatores como beneficiário de propinas. É tranquilizador para a nação que o chefe do governo se disponha a afastar imediatamente os assessores denunciados – e não apenas citados –, mas ainda permanece nebulosa a razão pela qual deu status de ministro ao secretário-geral da Presidência. A suspeita de que se trata de uma blindagem continua, pois, mesmo se for afastado do cargo como promete o presidente, o investigado que era ministro no momento de aceitação da denúncia continuará com direito a foro privilegiado.
Merece reconhecimento o gesto de transparência do presidente Michel Temer, que aproveitou o anúncio das providências do governo sobre a crise das polícias militares para esclarecer sua posição sobre a Lava-Jato. Resta esperar que as próximas ações do Planalto e de sua base aliada no Congresso sejam pautadas pela coerência e pelo compromisso com a moralidade pública.