O pedido de demissão de José Yunes, assessor especial do presidente Michel Temer, formulado ontem em caráter irrevogável, acrescenta mais combustível ao conflito entre os investigadores da Lava-Jato e a cúpula do PMDB, que comanda o governo e o Senado. O advogado, amigo de Temer há 50 anos, sai do governo no dia seguinte à divulgação da delação premiada do ex-diretor da Odebrecht que o identificou como receptor de doação feita ao partido pelo departamento de propinas da empreiteira. Na véspera, o próprio presidente da República, contrariado com o vazamento dos depoimentos, encaminhara carta ao procurador-geral Rodrigo Janot solicitando celeridade nas investigações para evitar interferência na agenda política do país.
A reação dos parlamentares menos sutil e mais agressiva. Ameaçados pelas delações da Odebrecht e pela divulgação gradativa de depoimentos, parlamentares liderados pelo senador Renan Calheiros, com o apoio velado da cúpula do governo, estão em campanha aberta contra o Ministério Público Federal. Enquanto o governo reclama que os chamados vazamentos seletivos estão entravando a governabilidade e o andamento das reformas necessárias para tirar o país da crise, o presidente do Senado ressuscita o projeto da lei de abuso de autoridade, que prevê punições rigorosas para juízes e procuradores, encarado como tentativa de intimidação aos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato.
O apoio inequívoco e majoritário da população brasileira não deixa dúvida de que a Operação Lava-Jato está prestando um serviço valioso ao país no combate à corrupção. Talvez esteja mesmo retardando reformas necessárias para o enfrentamento da crise econômica e do desemprego. Mas nada pode ser mais urgente do que continuar a limpeza ética na política e na administração pública do país, para devolver aos brasileiros a confiança na democracia e no futuro.