A principal notícia econômica da última semana foi, sem dúvida, a redução da taxa Selic pelo Banco Central, primeira desde março de 2012.
A deterioração fiscal do governo Dilma se iniciou naquele ano, partindo-se de um superávit médio do período 1999/2012 de 3% do PIB, para um déficit próximo de 2,5% em 2016.
A expansão dos gastos públicos tem efeito inflacionário, mais ainda quando se perde seu controle. Esses resultados inflacionários foram e continuarão sendo combatidos no Brasil com a política monetária, em que a principal ferramenta é a taxa de juro.
A utilização do juro como forma de combate à inflação é um mecanismo utilizado mundialmente pelas principais economias, e é eficiente para o combate a pressões altistas de preços e na administração das expectativas do mercado.
Importante, quando a taxa é alterada, seus efeitos são defasados e podem levar entre seis meses e um ano para surtir efeito integral e, portanto, afetam o futuro.
Embora a utilização da taxa de juro seja um mecanismo potente, pode, como todo medicamento, apresentar efeitos colaterais que devem ser acompanhados e controlados. No Brasil, influencia no câmbio, atrai fluxos financeiros internacionais e ajudou a jogar o país na inédita recessão atual. Nossa economia é um caso raro de recessão com taxa de juro elevada. Em momentos recessivos, sua redução é uma forma de estimular a atividade econômica.
Embora a queda de 0,25 ponto percentual na taxa Selic seja considerada tímida, pode ser saudada como o início de um processo continuado de redução que deve continuar ao longo de 2017 e de forma mais rápida do que o mercado vem projetando. É factível que no próximo ano a taxa se aproxime de 11%. Para que isso ocorra, é fundamental que as reformas fiscal e previdenciária se efetivem, reduza-se o déficit fiscal e se assegure que a inflação fique no centro da meta.
A utilização desmesurada da taxa de juro gerou danos colaterais absurdos no Brasil, entre eles a trilionária dívida pública, da qual sequer conseguimos pagar seus juros. Na utilização dos juros elevados, somos um case mundial.
Para comprovar-se a overdose de juros que foi aplicada, realizamos um exercício bastante simples: tomamos a média aritmética da Selic de dezembro de 2001 até o momento e chegamos a 13,7%; excluindo-se a inflação projetada para 12 meses, obtivemos uma taxa de juros real de 7,76% ao ano, o que dá bem ideia do tamanho da dose aplicada nesses quase 15 anos. Os efeitos colaterais estão liquidando o paciente.
Para concluir, se tomarmos por base as projeções do Banco Central para os próximos 12 meses, de 4,3%, nossa taxa real está em 9,7%, bem acima da desastrosa média histórica e ainda em um momento fortemente recessivo, o que dá bem uma medida do espaço e oportunidade que há para um corte mais rápido nas próximas reuniões do Copom.