Por muito tempo, Jon Favreau pensou e escreveu com a voz de Barack Obama. As palavras e os verbos preferidos do presidente americano apareciam até mesmo em um bate-papo despretensioso. Essa é uma das histórias que Favreau gosta de contar da sua experiência na Casa Branca.
Ele chegou lá em 2009 aos 27 anos, tornando-se o segundo mais jovem escritor de discursos presidenciais da história americana. Favreau elaborou os pronunciamentos de Obama até 2013 e chegou a ser classificado pelo chefe como o homem capaz de ler sua mente. Até hoje, é chamado por universidades para relatar a vivência no centro do poder.
No início do ano, Favreau esteve na Oxford Union, uma prestigiada associação de debates britânica. Depois de falar sobre o que aprendeu na Casa Branca, foi questionado por uma jovem da plateia a respeito de uma declaração de Marco Rubio, à época pré-candidato republicano à Casa Branca. O senador mais tarde derrotado por Donald Trump afirmou que Obama está intencionalmente tentando destruir os EUA.
Favreau, medindo as palavras, mas sem deixar de demonstrar desconforto, classificou o comentário de Rubio como tão extremo e insano, que somente a tensão da prévia republicana, uma corrida para demonstrar quem é o mais "louco", poderia explicá-lo. E completou: "Como democrata, discordo fortemente de muitas coisas que George W. Bush fez na presidência. Acredito que ele fez algumas coisas de acordo com suas convicções, que o levaram a tomar essas decisões. Mas não acredito que nenhuma dessas crenças tenha levado George W. Bush a entrar na Casa Branca e dizer: 'Agora, eu quero destruir a América'".
Para Favreau, não é racional alguém pensar que o objetivo de qualquer candidato à presidência seja destruir o país do qual faz parte. No Brasil, na boca de um dos líderes políticos locais, a manifestação de Rubio não destoaria do debate que os brasileiros estão acostumados a ouvir.
Durante os anos do PT no Palácio do Planalto, a oposição se acostumou a atacar os adversários com frases até mais fortes, mas igualmente superficiais e desprovidas de um conteúdo político capaz de sustentar um argumento razoável ou uma contraproposta. Agora, os antigos donos do poder repetem o mesmo erro, bombardeando as propostas do governo Michel Temer sem olhar se há hospitais ou escolas em volta.
A recusa ao debate e à negociação em um momento em que o país precisa passar por reformas para voltar a crescer não parece estratégia inteligente. Primeiro, porque não ajuda a resolver os problemas e, segundo, porque prejudica a apresentação de contrapartidas que possam assegurar ganho em algum embate importante. Por que o debate sobre o teto nos gastos públicos não pode ser associado à discussão sobre maior taxação dos mais ricos? Sem essa mudança de postura, o Brasil seguirá pautado por frases como a de Marco Rubio.