Candidatos são postos à venda como marcas diferentes de sabão em pó. Todos oferecem algo "novo" ou "inovador" ou alguma "mudança" ou "melhoria". Afinal, quem não quer um "novo desenvolvimento", um "novo modelo", um "novo tempo", "novas ideias" e "novas tecnologias", para aumentar o bem e diminuir o mal? Na propaganda eleitoral, a linguagem poética, as imagens de tirar o fôlego e as "musiquinhas" (jingles) animadoras são elementos de um enredo que serve mais para iludir do que para informar. A orquestração de falas e sons é parte de um espetáculo cujo propósito é instilar simpatia pelos candidatos dentro de mundos e cenários que não são necessariamente os que vivemos.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sou professor da disciplina de política e planejamento econômico e ensino aos meus alunos e alunas que as políticas públicas devem: ser concretas e mensuráveis para sabermos do que estamos falando; ser situadas em um horizonte de tempo para que entendamos como elas se desdobram e fundamentadas em uma base material, de recursos necessários para sua realização. Ora, várias das "mudanças" ou "novas" políticas propostas pelos candidatos são simplesmente vagas demais e intangíveis quando propõem "aumentar", ou "melhorar" ou "ampliar" algo. Por consequência, não passam no teste de serem postas em uma simples tabela de planejamento estratégico (parte do que se conhece como "gestão por resultado"), pois não oferecem resultados mensuráveis, passíveis de serem cobrados pela população. Não especificam os recursos nem propõem um modelo de implementação. Grande parte do que se vende é de fato uma ilusão de mudança.
Mas, me arrisco a dizer, a maior ilusão não é a que nos oferecem, mas, sim, a que desejamos: a ilusão de um modelo de governança no qual cidadãos são recipientes passivos de uma política pública que resolva todos os seus problemas; em que o governante benevolente transforme, como se em um passe de mágica, o "antes doloroso" em um "depois feliz". Nos vendem isso, pois "isso" é o que queremos comprar. Formados em uma tradição democrática frágil, que dá pouca voz e poder ao cidadão, esperamos (assim como a cada ritual de final de ano) renovar nossas esperanças sem exercermos nossas responsabilidades, como um alívio no nosso viver. Nesse sentido, as eleições são o paracetamol da política.
Acabamos por não enxergar o óbvio: que a verdadeira mudança social está dentro de cada um de nós. Parece clichê, mas não é. Não falo de grandes mudanças, mas, sim, de pequenas ações concretas cotidianas (pois esse é o tempo real no qual se vive) manifestas em atos de carinho, atenção e gentileza dentro de nossas casas, no trabalho, escolas, hospitais e nos espaços públicos. Cada um de nós precisa de um "plano de governo" de acordo com nossas circunstâncias: para passar mais tempo com aquelas pessoas que amamos, para brincar com nossos filhos e escutar nossos pais, para dar bom-dia aos nossos vizinhos, para ser cooperativo com nossos colegas de trabalho, para conversar com os amigos e ser tolerante com suas opiniões divergentes, para evitar a agressão gratuita e para reconhecer o valor da humanidade escondida pela pobreza e desigualdade. Não há organização social ou mesmo consciência de classe que possa ser construída sem uma base ética, de alteridade e reconhecimento nas relações humanas. Os políticos não nos farão melhores seres humanos, mas, sendo melhores seres humanos, poderemos fazer melhores políticos, dentro de uma sociedade com mais amor e menos ilusões.