Eu sei que vai parecer inacreditável e surpreendente, mas estamos a menos de duas semanas da eleição. Até aqui, o que vimos foi uma ausência completa de qualquer clima político na cidade. Uns vão agradecer, claro. Vão dizer que preferem a cidade sem muros pintados, sem tantos panfletos no chão e com poucos carros de som. Outros, como eu, pensam o oposto: a nova lei eleitoral, sob pretexto de regular doações de empresas, acabou gerando uma anomalia bem pior. Não há debate, não há campanha na rua, não há sequer discussão em pequenos grupos de amigos. Ficamos anestesiados e acordamos na hora de votar. E acabamos votando de qualquer jeito, de última hora, que é como o brasileiro se acostumou a fazer quase tudo na vida.
No embalo dessa pasmaceira coletiva, surgem os paladinos do voto nulo. Por não compactuarem com o sistema, acham que é melhor não validar opção alguma. Ledo engano, acabam validando tudo. Não apenas cruzam os braços, lavam as mãos. Se omitem, como se este tipo de protesto não fosse inócuo, apenas ajudando a validar as escolhas de outros. Nós não vamos eleger o prefeito Nulo da Silva. Portanto, a não escolha não se concretiza, e acaba se tornando justamente o que diz evitar: um aval. Quem vota nulo também sofrerá a consequência da violência, do custo de vida, da educação sem qualidade, pois tudo nasce da eleição, seja pela ação de quem escolheu, seja pela omissão de quem preferiu fingir que é possível não fazer parte dos acontecimentos políticos. Não é: até o preço da carne é um acontecimento político.
Por isso, se você quer protestar contra tudo o que está aí, proteste escolhendo o melhor. Faça um esforço digno do cidadão que você acha, pensa e diz ser, e pesquise sobre todos os candidatos, para além das ideologias e do niilismo.
Sei que a sua ojeriza é justa, mas lembre-se de Platão: o castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus que fazem. Façamos, pois.