A cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem grande significado para o país num momento em que o povo brasileiro clama por moralização na política, no rastro da maior investigação de corrupção da história nacional. Réu no Supremo Tribunal Federal (STF), que o havia afastado em maio da presidência da Câmara, e um dos principais integrantes do esquema de corrupção na Petrobras, o parlamentar acabou perdendo o mandato por quebra de decoro parlamentar, por ter mentido aos colegas sobre a posse de contas milionárias na Suíça. Mas é justamente sob o ponto de vista das expectativas de freio à corrupção que a arrastada decisão da Câmara deve ser destacada.
Diante do histórico de chantagens e abusos de poder que se firmaram como marca do responsável pela autorização e tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o temor era de que o integrante do partido hoje no poder pudesse promover mais uma de suas incontáveis manobras para escapar da punição. Até mesmo a marcação da sessão de julgamento para uma segunda-feira, dia de pouca frequência no Congresso, foi fortemente questionada. Mas o parlamento se comportou dignamente nesse episódio. O antes todo-poderoso parlamentar caiu advertindo colegas de que agora era a sua vez, mas "amanhã é contra vocês". O número de votos favoráveis à cassação, porém, não deixa dúvida de que a pressão popular surtiu efeito.
Só que há ainda muito trabalho pela frente: o estilo Eduardo Cunha de fazer política não se extingue a partir da arrastada decisão da Câmara que culminou finalmente na sua cassação. Outros parlamentares ainda são investigados e o processo político é apenas uma das etapas desta investigação. Todos os que desonraram seus mandatos têm que prestar contas à Justiça, para evitar que práticas desonestas continuem a ser estimuladas pela impunidade.