Setores que nunca participaram da vida escolar, cujos filhos sequer estudam na rede pública, que nunca se interessaram pela valorização do ensino, em melhorar os salários dos professores ou pressionar governos por ampliar investimentos em Educação, surgem no cenário político brasileiro com uma articulação nacional em câmaras, assembleias e Congresso Nacional preocupados com o conteúdo pedagógico das escolas.
O que teria acontecido para esse súbito despertar? Seria a ameaça representada por nossos professores, tão mal pagos, atendendo turmas muitas vezes em ambientes insalubres, precários, com carência de ferramentas elementares de ensino como quadro e giz? Esses grandes subversivos estariam incutindo nos estudantes a terrível capacidade de pensar por conta própria? Se for isso, por que nossa sociedade segue alheia aos seus direitos? Por que não diminuiu a criminalidade? Por que mesmo a corrupção é cada vez mais endêmica?
A resposta não está explícita no texto do Projeto de Lei 190 que tramita na Assembleia Legislativa, à semelhança de outro PL na Câmara Municipal em Porto Alegre ou no Congresso Nacional, onde o parlamentar proponente do texto teve a campanha financiada por empresas do setor de material didático e grandes grupos privados de ensino, cuja pretensão não é certamente salvar as pobres almas submetidas aos terríveis mestres da sala de aula.
Sob uma retórica do óbvio – a escola sem partido – como se no Brasil houvesse alguma instituição partidarizada ou alguém que defenda uma escola com partido, o texto curiosamente formulado por uma ONG de mesmo nome, é tão artificial que pretende fazer uma intervenção nas escolas sem considerar a Lei de Diretrizes e Bases construída a muitas mãos por intelectuais e especialistas na área da Educação, que se tivessem sido consultados certamente teriam rechaçado essa aberração que pretende criminalizar professores, estabelecer uma polícia do pensamento e sabotar a construção da cidadania no país.