Divididas em relação ao processo de impeachment, as seis maiores centrais sindicais do país decidiram fazer uma trégua nas divergências políticas para cerrar fileira contra as reformas previdenciária e trabalhista que estão no horizonte do presidente interino Michel Temer. Em reunião realizada na última terça-feira, líderes das entidades aprovaram documento que condena as mudanças pretendidas pelo governo e propõe medidas para a recuperação econômica. A questão é que existe um impasse entre as pretensões dos trabalhadores e a realidade: não há como reativar a economia e o nível de emprego com entraves legais que obrigam o país a gastar mais do que arrecada.
O próprio presidente interino, também influenciado por seus interesses pessoais no caso do impeachment, tem evitado aprofundar o debate sobre reformas que até podem ser impopulares, mas não podem mais ser adiadas. O risco, diante dessa demora, é de que, a exemplo do ocorrido com as centrais sindicais, o governo também deixe de contar mais adiante com o apoio expressivo registrado hoje no Congresso. Diante do agravamento da crise econômica, as consequências desse adiamento poderiam se tornar ainda mais preocupantes do que as responsáveis por boa parte do desgaste registrado pela presidente afastada, Dilma Rousseff.
Na falta de ações concretas para redução das despesas públicas e diante do déficit ainda expressivo previsto para 2017, só resta ao governo investir em reformas estruturais para o longo prazo. Isso significa que, além da limitação de gastos por até 20 anos, à espera do Congresso depois do recesso, o Planalto precisa se definir logo em relação às reformas trabalhista e previdenciária, as mais emergenciais, e sem as quais o país não tem como crescer de forma sustentada, nem gerar empregos.