Há seis meses, tenho sustentado que o golpe real não era aquele que o PT denunciava, mas sim a desarticulação da Lava-Jato. Em 5/12, escrevi: "Temos um governo incapaz e cínico que fez do poder seu objetivo exclusivo e que se percebe ameaçado pelos casos de corrupção já revelados e a revelar. Tentando derrubá-lo, alguns de seus aliados se somam aos opositores à direita, espécimes desenvolvidos no lodo da mediocridade nacional, interessados, sobretudo, em se proteger da Lava-Jato" ("A guerra dos fantasmas"). Em 29/03, assinalei: "É pelas possibilidades virtuosas da Lava-Jato – e não por seus erros e precipitações – que há duas grandes pizzas encomendadas em Brasília. A primeira, pelo PT, para salvar Lula. A segunda, já posta no forno, é um pedido especial de antigos clientes, o PMDB e o PSDB. Por ela, se apressa o impeachment, ainda que a base jurídica do processo seja notavelmente frágil. Se tudo correr como desejam o correntista suíço e seus aliados, Temer assume o governo, segura a Polícia Federal e articula a "moderação" da Lava-Jato" ("Sobre pizzas e bruxas"). Por fim, em 9/04, sustentei: "O jogo muda com a saída do PT do governo e pode mudar de maneira perigosa. O discurso do partido insistindo na tese de que há um "golpe" em andamento – de fato há, mas não é o impeachment e sim a desarticulação da Lava Jato – poderá estimular, logo adiante, ações de retaliação" ("Eleições contra a crise"). Depois das gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado (que serviu aos governos Lula e Dilma por 12 anos), ficou claro que o impeachment foi orientado por interesses muito concretos de impunidade. O que está em curso no Brasil, com efeito, poderia ser denominado "Operação Seca Rápido".
Artigo
Operação seca rápido
Jornalista e sociólogo
Marcos Rolim