Cheguei a Porto Alegre para fazer um curso em 1979. No Centro. Ainda havia alguns indícios de "centro". Passadas mais de três décadas, passeio pelo centro em 2016. O que vejo? Na quadra principal da Rua da Praia, 10 farmácias. Duas livrarias meia-boca. Lojas fechadas. Nenhum café. Restaurantes? Nem falar. E a praça da Alfândega tomada por barracas. Venda de quinquilharias. E mais farmácias. Sujeira pelo chão. Prédios mal cuidados. Descendo por algumas ruas, encontra-se até um cortiço. Em ruas próximas, pessoas andam com suas bolsas seguras na parte da frente do corpo. Furtos a mancheias. À noite, conta-se que há tiroteios. E proxenetismo.
Por que os governos municipais deixaram que o Centro se degradasse a esse ponto? Não se trata de uma visão elitista. Ao contrário. Fazer do Centro algo visitável e atrativo para comerciantes só traz prosperidade. E empregos. Que Porto Alegre está doente e o Centro é o sintoma é fácil de perceber: assim como as igrejas compraram os cinemas, as farmácias ocuparam o espaço dos cafés e outros ramos. Como é possível uma dúzia de farmácias em um espaço de 200 metros?
E o que justifica a tomada da Praça por barracas? O.K.. Era sábado. Mas não é nesse dia que as pessoas saem para passear? Entendo que cada um deve buscar uma renda extra ou até mesmo ter venda nas barracas. Mas essa gente da Prefeitura não tem criatividade? E o que fazem 33 vereadores?
Qualquer cidade pequena ou média da Europa ou da Argentina tem um centro com restaurantes, cafés, cadeiras na rua. Isso atrai turistas. Gera renda. Somando o estado em que está o centro da Capital com a inércia na construção de um espaço na orla do Guaíba, só temos que dizer: as autoridades deveriam ser processadas por improbidade-de-mau-gosto. Amadorismo misturado com incompetência: só isso explica a transformação do Centro e seu entorno da capital "nisso".
O RS vai mal. Talvez por isso o hambúrguer "Madero" faça tanto sucesso no shopping Iguatemi. Vejam as filas. Vieram nos ensinar até a fazer hambúrguer.