Em sua primeira manifestação oficial depois de guindado ao Palácio do Planalto num cenário traumatizado pelo impeachment, o presidente interino Michel Temer aproveitou a posse do novo ministério para procurar transmitir confiança aos brasileiros. O presidente acenou com uma democracia da eficiência, baseada no diálogo, para fazer um governo de "salvação nacional", comprometido com a melhoria dos serviços públicos, com a recuperação da economia baseada na ênfase em parcerias público-privadas, com a redução do desemprego, com o enxugamento da máquina administrativa e o equilíbrio das contas governamentais, com a revisão do pacto federativo, com a manutenção dos programas sociais e com ênfase no combate à corrupção. São compromissos importantes, cujo cumprimento é essencial para evitar que o governo temporário frustre as expectativas. E, em consequência, acabe se encaminhando para o mesmo desgaste que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Consciente do desafio, o novo responsável pelo comando do país conferiu atenção primordial à definição de sua equipe econômica _ aquela à qual caberá restabelecer, a curto prazo e de forma transparente, as bases para a tão esperada retomada do crescimento, atacando também a situação de penúria dos Estados. A presidente afastada, que ontem reiterou a tese de "golpe" e lamentou estar sendo vítima de "injustiça", só se defrontou com essa situação extremada porque, num presidencialismo de coalizão, não teve habilidade para negociar com o Congresso. E, no afã de se reeleger, negou a gravidade da crise, que já no início de seu segundo mandato a levaria a recorrer a graves manobras fiscais.
Os crimes de responsabilidade pelos quais a presidente é acusada atestam a falência a que foi levado o setor público em seu período de gestão, com sérios prejuízos até mesmo para programas sociais e um saldo de mais de 11 milhões de desempregados. São justamente esses atos, os quais nega ter praticado, que podem levá-la inclusive à perda do mandato no julgamento do mérito do impeachment no Senado, colocando sob ameaça até mesmo o futuro de seu partido político.
O desafio do presidente interino é destravar o país, paralisado nos últimos meses por uma perversa combinação de falta de habilidade política e econômica, reforçada pelo descontrole da corrupção. Infelizmente, o governo que assume a nação pelos próximos meses tem no primeiro escalão alguns homens públicos associados a práticas políticas que destoam dos compromissos éticos. Alguns, inclusive, estão implicados na operação defendida com veemência ontem pelo presidente interino, a Lava-Jato, o que é preocupante.
O novo governo temporário tem que assumir de fato, para além dos discursos, um compromisso firme com o redimensionamento da máquina, com o combate à corrupção e às práticas que levaram o PT a um desgaste profundo. Entre esses males, estão o fisiologismo, o compadrio e, em consequência, o apego ao poder para manter regalias. Por isso, o novo presidente precisa mostrar logo como implementará a reforma política e todas as outras enfatizadas ontem em seu discurso, como a previdenciária e a tributária, sem as quais as mudanças no comando do país tendem a se restringir a nomes.