Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil. Nada é mais importante. A nova meta de déficit? Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil. A delação do Sérgio Machado? Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil. A Lava-Jato, a reforma da Previdência, a liderança da dupla Gre-Nal no Brasileirão? Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil. Este assunto não escancara apenas o nosso machismo semi-enrustido ou a inaceitável banalização de uma barbárie.
Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil porque por detrás dela também está a cultura da impunidade, um câncer em nosso ecossistema social, que valida a violência urbana, a corrupção e a desfaçatez com que autoridades de todos os poderes se movimentam para defender interesses espúrios. Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil porque por detrás dela está a proliferação de políticos à la Bolsonaros e Felicianos, que se beneficiam desse ambiente reacionário, conservador e falsamente puritano que nosso machismo camufla. Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil porque por detrás dela está a violência psicológica da discriminação de gênero, do salário menor para o mesmo cargo, do assédio dissimulado, do tipo de padrão bela, recatada e do lar que boa parte do nosso povo ainda espera e estimula. Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil porque por detrás dela está a naturalidade com que aceitamos que certas letras de música, que glamurizam a violência contra a mulher ou o uso dela como objeto, sejam cantadas na TV às quatro da tarde de um domingo. Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil porque por detrás dela ainda está um tipo de educação em que meninos "pegam" as meninas, e pais estimulam a malandragem deles e o recato delas. Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil porque a cada quatro minutos uma mulher sofre algum tipo de violência no Brasil, e 11 são estupradas todos os dias. E uma delas podia ser sua filha.