Em 1950, Getúlio Vargas deixou seu exílio na Fazenda do Itu e partiu para uma difícil campanha eleitoral. Tinha 67 anos, o que, na época, significava uns 80 de hoje. Por isso, o primeiro jingle de sua campanha para presidente da República tinha estes versos: Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar. O sorriso do velhinho faz a gente se animar. O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar.
Essas palavras ficaram gravadas na minha mente de criança, como também os slogans dos adversários de Getúlio, sendo o principal deles o brigadeiro Eduardo Gomes, apoiado pela UDN de Carlos Lacerda e pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
Quem leu o livro Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Moraes, sabe como a parada deve ter sido dura para Getúlio. Além de comandar uma imensa rede de jornais, revistas, rádios e até da incipiente televisão, ele não tinha o menor escrúpulo quando se tratava de atingir os seus objetivos.
Conta-se que um amigo perguntou a Getúlio como iria fazer para enfrentar Chateaubriand e ele teria respondido: "Vou subir nos palanques de todas as cidades que puder e juntar a poeira do Brasil nos meus sapatos".
Os palanques eram estruturas de madeira montadas pelos partidos políticos nas cidades do interior. Funcionavam como pequenos palcos, erguidos na praça principal e onde cabiam amontoadas não mais do que 20 ou 30 pessoas. Um único microfone ligava-se ao modesto sistema de som, que não ultrapassava duas quadras ao redor do evento. Para esquentar o respeitável público, começavam falando os líderes municipais, depois os estaduais e federais. Finalmente, com grandes manifestações dos correligionários, falava o candidato a presidente da República.
Era a hora de expor seus planos para o povo, numa linguagem acessível e emotiva, capaz de conquistar adeptos até entre os adversários. Sim, porque nesse teatro ao ar livre, comparecia quase toda a população, ficando os que não apoiavam o candidato, para não se comprometerem, bem longe do palanque.
Getúlio venceu a eleição de 1950 graças a centenas de comícios que realizou pelo Brasil. Campanha de poucos gastos, porque os companheiros políticos, em cada cidade, brigavam para hospedar o candidato em suas casas.
E o marqueteiro? Não custou um vintém, porque atendia pelo nome de Getúlio Dornelles Vargas.