Já estão em vigor desde o dia 1º as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, com mudanças planejadas para unificar o idioma falado no Brasil, em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe, em Portugal, em Angola, na Guiné-Bissau, em Moçambique e no Timor Leste, de modo que a padronização facilite a integração comercial e cultural entre esses países. Ainda que cercado de controvérsias entre os próprios linguistas, muitos dos quais defensores intransigentes das variedades nacionais, o acordo tornou-se finalmente obrigatório na última sexta-feira, depois de um adiamento de três anos determinado pela presidente Dilma Rousseff, em dezembro de 2012.
O Brasil saiu na frente da maioria de seus congêneres lusófonos, com a adoção espontânea das novas regras por instituições oficiais e privadas. É o caso das redes de ensino, públicas e privada, e dos livros didáticos gerenciados pelo Ministério da Educação. Também já observam a alteração das regras os principais veículos da imprensa brasileira, editoras e escritores.
Não haverá, portanto, nenhum grande choque cultural em decorrência da obrigatoriedade. Mas o momento é oportuno para a reflexão dos brasileiros sobre o tema e para ações de revalorização do nosso idioma.
"Minha língua é minha pátria", escreveu o poeta português Fernando Pessoa, parafraseado por Caetano Veloso numa canção célebre de 1984, já nos estertores da ditadura: "A língua é minha pátria./ E eu não tenho pátria, tenho mátria. /E quero frátria". Mais importante do que redefinir o uso de acentos agudos e diferenciais, circunflexos e hífens, a oficialização de regras para o uso correto da língua deve incluir, portanto, o resgate da autoestima dos brasileiros e o sentimento de fraternidade sugerido por Caetano. O povo brasileiro deve aproveitar 2016 para expressar, com todas a letras e acentos, o seu clamor coletivo por honestidade, integridade, caráter, responsabilidade, transparência, educação e desenvolvimento - palavras bonitas para discursos, mas que, infelizmente, têm sido pouco praticadas por governantes, autoridades e homens públicos com mandato para representar a população.
O povo heroico do Hino Nacional perdeu o acento, segundo as novas regras, mas não pode perder a esperança de que seu brado retumbante por justiça e liberdade seja ouvido em bom e correto Português.