Portaria assinada pelos presidentes dos tribunais superiores, publicada no Diário Oficial da União nesta semana, alerta que as eleições de 2016 poderão ser realizadas sem o uso de urnas eletrônicas, devido ao corte de recursos do Orçamento determinado pelo governo. É evidente que a advertência se constitui em mais uma pressão para o Congresso aprovar a mudança na meta fiscal. Ainda assim, merece uma reflexão: o retorno ao voto em cédula de papel representaria um atraso monumental, mas o Judiciário também tem que se alinhar à austeridade que está sendo exigida de todos os setores da sociedade neste momento de crise.
Tanto o corte temporário nas dotações orçamentárias, como forma de evitar novos questionamentos por parte de organismos como o Tribunal de Contas da União (TCU), quanto um eventual prejuízo eleitoral são consequências deploráveis de dificuldades que poderiam ter sido evitadas com melhor gerenciamento. Diante das exigências impostas pelo agravamento da crise e das contas públicas, porém, é evidente que o impacto precisa ser administrado com um mínimo de eficiência por todos os poderes, bancados pelos impostos dos contribuintes.
Quando a crise nas finanças públicas atinge dimensões como as atuais, é evidente que o impacto não se restringe ao Executivo, mas afeta os demais poderes. Ainda assim, seria lamentável se as dificuldades levassem o país a retroceder, com decisões como a volta ao voto em papel - que, ao contrário da urna eletrônica, tem um histórico de fraudes.
Ao mesmo tempo que pune os brasileiros de diferentes formas, reduzindo-lhes a renda e as oportunidades de trabalho, a crise atinge também o setor público. Em todas as esferas de poder, é importante que cada um faça a sua parte de forma responsável, com ações consequentes e sem apelar a argumentos com potencial apenas para desgastar ainda mais o Executivo, não para facilitar o ajuste e a volta à normalidade.