São compreensíveis as desconfianças de uma parcela do eleitorado em relação à segurança das urnas eletrônicas no país, ampliadas com o acirramento das disputas políticas nas últimas eleições gerais. Ainda assim, a volta do voto impresso, decidida pelo Congresso nesta semana, só pode ser vista como um passo atrás na cultura política brasileira, como a definiu o ministro José Antonio Dias Toffoli, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A explicação, na visão de outro jurista, Carlos Velloso, que também integrou o TSE, só pode ser encontrada na "cultura do carimbo, herdada dos portugueses".
Com a decisão de derrubar o veto presidencial à medida, os congressistas podem ter contemplado a aspiração de uma parcela da população, que não admite conviver com a dúvida em relação às suas escolhas políticas. Ainda assim, é lamentável que suspeitas vagas de fraude, sem qualquer comprovação real, venham a implicar retrocesso numa área em que o país havia se tornado referência, garantindo um processo de votação que a Justiça Eleitoral afirma ser 100% seguro e eficiente, além de apurações em tempo recorde.
Por mais que enumerem razões subjetivas para a mudança decidida agora, seus defensores não podem ignorar o custo financeiro que será legado aos contribuintes. Nas eleições gerais de 2018, a primeira prevista para ter voto na urna e no papel, a estimativa é de que precisarão ser impressos 220 milhões de comprovantes. O custo previsto não fica abaixo de R$ 1,8 bilhão - elevado demais para um país financeiramente debilitado como o Brasil.
É evidente que, num processo tão decisivo para o futuro dos brasileiros como eleições, tudo precisa ocorrer com o máximo de transparência. Ainda assim, o país agiria melhor se investisse somas tão elevadas em avanços tecnológicos a favor da democracia, não num sistema com potencial para gerar impasses eleitorais que pareciam fazer parte do passado.