Tércio Sampaio Ferraz Jr., grande amigo, organiza o "Seminário da Feiticeira" em Ilha Bela (SP).
Lá estive e ele fez fantástica análise da "Corrupção".
Disse:
A corrupção, nos antigos, relacionava-se com os costumes (abandono dos valores).
O uso alterou-se.
A corrupção moderna relaciona-se com o Erário.
Aqui o sentido é político.
Afeta o exercício da democracia.
A micropolítica busca a influência e o reconhecimento, para gerar redes de relações.
Esta explica o paternalismo e o clientelismo, como instrumentos para coesão social e governabilidade.
Ela tem relação com a corrupção.
Na Idade Média confundia-se a suserania política com a condição de proprietário (o título de DOM vem de dominus).
Aparecem as diferentes "moedas" de troca (parentesco, amizade etc.) usadas nas formas de nepotismo.
A corrupção só aparecia quando entrava o dinheiro como um presente, o que monetizou as relações.
O dinheiro corrompia porque tornava obsoletas as máximas do clientelismo: lealdade e fidelidade não se compram.
Na sociedade de mercado, a economia capitalista vê no dinheiro o meio hegemônico de troca.
A ingerência do privado no público produziu novo conceito de corrupção, ligado à distinção entre a sociedade econômica e sociedade política e a confusão dos papéis: político/empresário.
Com a industrialização, a noção de interesse atinge todas as relações econômicas.
O novo conceito instrumentaliza-se: combate às diferentes manifestações de clientelismo associado ao emprego, ao trabalho remunerado e a vantagens empresariais associadas à influência de toda espécie.
Corrupção toma o sentido de um inibidor do progresso, mediante o que adquire conotação com escândalo.
Escândalos entram na política: revelação de segredos inconfessáveis; detalhes picantes; figuras obscuras ligadas a empresários.
São qualificações da moderna corrupção:
- é técnica de crítica e de denúncia do abuso de papéis públicos para uso privado;
- surge da condenação da micropolítica e da diferenciação entre o público e o privado e se instala no interior dos sistemas jurídicos;
- é associada à noção de progresso, dando azo à criticada distinção entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos;
- alimenta-se do escândalo que ganha repercussão generalizada, donde o papel da mídia e da opinião pública massificada;
- torna-se o grande mal político da civilização, capaz de atingir todas as esferas de interesse público.
A corrupção é a Realpolitik empresarial.
O Estado - maior cliente da economia - é o parceiro para a corrupção de parte dos fornecedores.