No dia 10 de novembro, será entregue ao bispo de Santo Ângelo, dom Liro Vendelino Meurer, uma sólida documentação para abertura, em Roma, do processo de canonização de Sepé Tiaraju.
Há exatamente 40 anos, em novembro de 1975, lançamos na Feira do Livro de Porto Alegre o romance histórico Sepé Tiaraju, cuja mais recente edição, bilíngue em português/alemão, com magníficas fotografias de Leonid Streliaev, foi entregue ao papa Francisco, em julho passado, pelo prefeito José Fortunati.
Durante esses longos anos, proferimos muitas conferências sobre Sepé Tiaraju em palcos tão heterogêneos como a bucólica cidade de São Sepé e a efervescente cidade de Berlim; nas ruínas de São Miguel Arcanjo e na Assembleia Legislativa de Buenos Aires; em pequenas escolas do interior do Rio Grande do Sul e na cátedra de diferentes universidades. Em todos eles, como recentemente, em Brasília, na embaixada da Áustria (terra do famoso padre Sepp) e no Panteão dos Heróis da Pátria, encontramos público entusiasta em reconhecer o valor das missões jesuíticas do sul da América, como a definiu Voltaire: "Um verdadeiro triunfo da humanidade". E em considerar Sepé Tiaraju como seu verdadeiro símbolo, seu mártir incontestável, cuja morte selou também o desaparecimento dos Sete Povos das Missões.
Foi para defender essa obra cristã, iniciada em 1610 pelos padres italianos Giuseppe Cataldino e Simon Macetta, que Sepé Tiaraju tombou em local onde está hoje a cidade de São Gabriel, no dia 7 de fevereiro de 1756. Nesse interregno, em cerca de um século e meio, a cruz protegeu da escravatura milhares e milhares de guaranis, hoje entregues à sua própria sorte.
Recordo de uma pergunta que me fez um professor alemão, na cidade de Hannover, em 1997, quando terminei de proferir uma conferência sobre Sepé Tiaraju: É verdade que existe no Brasil uma cidade com o nome de São Sepé? Sim, respondi. E como os padres católicos dessa cidade encaram um santo que não foi santificado? Rezando, certamente, para que um dia o que o povo sonhou se transforme em realidade. E que possam transportar sua imagem, venerada nas ruas, para o interior das nossas igrejas.
Embora o caminho da santificação de Sepé Tiaraju possa ser longo e áspero, esperamos que, finalmente, a voz do povo se transforme na voz de Deus.