Desde quarta-feira, a figura mais patética da política brasileira é o filósofo Renato Janine Ribeiro. Quando os jornais noticiaram que Aloizio Mercadante trocaria a Casa Civil pelo Ministério da Educação, demoramos a nos dar conta de que ele ocuparia o lugar de alguém, o lugar de Janine.
A manchete era a queda de Mercadante. Mas seu fim como integrante da estrutura de poder do Planalto seria também o fim de Janine. Aconteceu com Janine o que ele lamentava quando acontecia com os outros.
O pensador convocado para dar algum glamour ao governo caiu como se fosse um aliado de terceira linha. É como se Janine fosse um Arthur Chioro, de quem você sabe apenas que deixou o Ministério da Saúde, mas daqui a uma semana não saberá dizer quem foi ou quem é.
Janine não resistiu às matilhas que estraçalharam também suas reflexões. Entrevistei o professor de Ética e Filosofia Política da USP, em setembro de 2006, sobre uma de suas obsessões na época - a possibilidade de se fazer política acima de conchavos.
Esta frase está na entrevista, publicada em 14 de setembro em ZH:
- Sou contra coalizões apenas para garantir maioria no Congresso.
E mais esta outra, sobre a hipótese de uma aproximação entre PT e PSDB, para que os dois partidos reunissem o que tinham de melhor e se livrassem da política baixa:
- O risco, se não houver essa aproximação, é de que a política brasileira piore.
O título da entrevista era de outra frase dele: "Gostaria de ver uma aliança PT-PSDB". Janine assumia o risco de parecer ingênuo. O PT sobrevivia ao mensalão e as pesquisas davam Lula como reeleito. Dias antes da entrevista, Fernando Henrique Cardoso havia emitido a Carta aos Brasileiros, com ataques a Lula e a quase admissão da derrota de Alckmin.
FH andava preocupado com a aproximação (acredite) entre Lula e Aécio, governador de Minas. Os dois convergiam para, entre outras coisas, tirar Serra da disputa de quatro anos adiante. O voto em Minas seria casado, o Lulécio. As raposas do PSDB se inquietavam.
A entrevista em que Janine defende a aproximação se dá nesse ambiente. Ele lamentava:
- Sempre me perguntei sobre os motivos que impediram a aproximação. PT e PSDB não se aliaram entre si, mas, para governar, aliaram-se a outros partidos que não são o que temos de melhor.
Imaginava até "uma aliança PT-PSDB com data marcada para terminar, na base de vamos ficar juntos por quatro anos e depois a gente se separa". Não se conformava que o PSDB, entre 1995 e 2002, e o PT a partir dali, se dedicassem à construção de bases de apoio sustentadas pelo existia e existe de pior para poder governar.
Vista hoje, a pretensão de Janine parece boba. Mas outros pensavam a mesma coisa. Para os que desqualificavam o sonho de uma política de alto nível, ele esclarecia:
- Eu raciocino como filósofo. Não posso dar respostas de cientista político.
Para Janine, PT e PSDB eram mais parecidos do que pensavam. Mas o PSDB foi empurrado para a direita, o petismo virou lulismo e o distanciamento só aumentou, até chegar ao momento em que Aécio é hoje o principal articulador do golpe contra Dilma Rousseff.
Janine durou seis meses. Foi mandado embora porque tudo o que havia de ruim no PT e no PSDB em 2006 (sem falar nos oportunistas do PMDB) ficou pior em 2015. Medíocres e pilantras abreviaram a passagem pelo poder do homem que pensou em contribuir para uma política menos suja e menos egoísta.