O maior acordo comercial da história recente está para o Brasil como o hospital do Médicos sem Fronteiras em Kunduz, no Afeganistão: o país deverá ser vítima de "danos colaterais". O alvo de Estados Unidos, Japão e outros 10 países que representam quase metade (40%) da economia global é a China. E, nesse caso, o objetivo é tão claro que foi escrito em nota pelo presidente Barack Obama: "quando mais de 95% de nossos clientes potenciais ficam fora de nossas fronteiras, não podemos deixar países como a China escreverem as regras da economia global".
Como em toda a história recente das negociações internacionais, o Brasil ficou de fora do acordo. Nem poderia, ainda que quisesse participar _ o que é uma questão bastante razoável, diante de uma economia em que a indústria perde espaço ano a ano mesmo com alíquotas de importação elevadas. As regras do Mercosul (que tem como países-membros Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela e Bolívia, sem contar os associados) exigem que ou todo o bloco participe de acordos, ou nenhum.
Dadas as divergências entre os sócios, negociações bem menos ambiciosas, com a União Europeia, não evoluem significativamente há 11 anos. Quando se realiza um encontro, o assunto volta à tona, sem nunca avançar. Por isso, quando o acordo entrar em vigor, possivelmente em 2025, é inevitável que o comércio exterior brasileiro perca relevância nos países envolvidos no Tratado de Livre Comércio Transpacífico (TPP, na sigla em inglês). Além dos EUA, segundo maior comprador de produtos brasileiros, as perdas mais significativas podem vir de Japão (quinto), Chile (sétimo), México (14º) e Cingapura (15º).
Uma dúzia de países conseguiu a façanha que há mais de uma década desafia o comércio global. Depois de mostrar o caminho, deve aumentar a pressão para que outros sigam o mesmo caminho. O TPP ainda precisa passar pelas formalidades de praxe - aprovação nos Congressos dos países-membros - antes de entrar em vigor. São previstas as resistências também de praxe: já se fala em fortes críticas dos republicanos à redução de tarifas de importação previstas. Sem contar as dos militantes antiglobalização. É bom lembrar que, desde o fracasso da Rodada do Milênio, no final de 1999, praticamente nenhum acordo multilateral ambicioso conseguiu sair o papel.