Por Rodrigo Müzell, Gerente-executivo de jornalismo digital da RBS e membro do Conselho Editorial da RBS
No domingo passado, o segundo turno das eleições em Porto Alegre terminou com a capital gaúcha repetindo o primeiro: foi a campeã de abstenções entre as capitais brasileiras, com 34,83% dos eleitores deixando de votar.
O fenômeno não é coisa de gaúcho: Brasil afora, as abstenções cresceram. Causa-me desconforto ver tanta gente abrindo mão de opinar sobre os rumos da sua cidade – afinal, na eleição municipal escolhemos quem decide sobre as nossas ruas, praças, postos de saúde, creches. Mas é claro que o eleitor ausente teve suas razões. Entre vários motivos apontados por estudiosos, se repete a percepção de cansaço e desconexão com a política. Por que se envolver? Em que meu voto influi?
Quando o eleitor não acredita no seu papel, a democracia está em risco. E quem faz jornalismo tem de ajudar nesse problema – até porque o jornalismo é um dos fiadores da democracia. Nossa responsabilidade é garantir que o público tenha informação suficiente para opinar, e voz para chegar à classe política.
E como podemos ajudar?
1) Explicando o que os candidatos propõem e como isso se aplica na realidade. As promessas são factíveis? O candidato já as cumpriu em outro momento? As ideias avançam sobre o que já foi feito? Conferir, questionar, traduzir o “politiquês” é essencial.
2) Mostrando como a política é feita na vida real. Nos palácios, nos parlamentos, nos gabinetes, nas bases dos partidos. Qual é a diferença ideológica entre partidos e pessoas? Quais acordos são feitos? A que interesses atendem?
Na cobertura eleitoral da RBS, buscamos atuar nessas duas dimensões. Com peso muito maior na primeira: em entrevistas na Gaúcha, na RBS TV e em Zero Hora, os candidatos tiveram a chance de explicar o que pretendiam em detalhes. Nas reportagens, o eleitor pôde avaliar as propostas e, em um quiz no digital, compará-las com suas próprias ideias. A segunda forma com que o jornalismo pode contribuir é acompanhar e analisar atos oficiais, mas também os bastidores da política. Por exemplo, fizemos isso em dois podcasts: o Zona Eleitoral trouxe a análise dos movimentos da semana com Rosane de Oliveira, Andressa Xavier, Dione Kuhn e Kelly Matos. E o Conversa de Gabinete, dos repórteres Fábio Schaffner e Paulo Egídio, revelava as estratégias de campanha que não apareciam nas entrevistas de candidatos.
Seja municiando o público para a corrida eleitoral de 2026, seja para avaliar os eleitos em 2024, nossa tarefa é essencial para ajudar quem decide votar a escolher seus representantes. E, quem sabe, contribuir para que o percentual de eleitores que confiam o suficiente na democracia para se manifestar aumente.