Dia 23 de março, Moacyr Scliar(1937- 2011) completaria 80 anos de nascimento. Para os leitores de Zero Hora, que durante mais de 30 anos acompanharam suas crônicas nas páginas do jornal, preparamos uma porção de conteúdos especiais. Mas, antes de contar desses conteúdos, deixa eu relatar para vocês alguns bastidores da convivência com o Scliar aqui na Redação.
Perguntei para meia dúzia de colegas do que eles se lembravam desse convívio, e só vieram palavras doces.
O Scliar, um dos maiores escritores brasileiros, membro da Academia Brasileira de Letras, era de uma simplicidade e de uma gentileza admiráveis. Tinha um elogio para cada pessoa. A gente se sentia especial só vendo que ele se aproximava.
– Nobre editora! – ele me cumprimentava.
E só então começava a conversa.
Se algum colunista não entregava a coluna aos 48 do segundo tempo, para quem a gente pedia um texto? Scliar! Ele não negava nunca. Escrevia sobre qualquer tema, na velocidade da luz – e com qualidade.
– Todo mundo conhece o talento literário do Scliar e também sua bem-sucedida carreira na medicina. O que nem todo mundo sabe – conta Cláudia – é que ele foi também um jornalista cultural de primeira. Na nossa convivência na Redação, foram muitas as vezes em que eu, como editora, pedi a ele textos de última hora, sabendo que receberia um material melhor do que a encomenda desse repórter de luxo que fazia questão de cumprir a tarefa muito antes do prazo combinado. O Scliar era também um pauteiro atento e empolgado, que nunca chegava na Redação sem trazer pelo menos uma sugestão de reportagem no bolso.
– Lembro sempre do Scliar circulando com entusiasmo por todas as ilhas da Redação de Zero Hora – conta o editorialista Clóvis Malta –, demorando-se mais naquelas em que a sua palavra de homem das letras ou sanitarista tinha mais eco. E não esqueço, claro, da rapidez com que ele redigia qualquer texto quando sentava frente ao computador.
– Todo domingo, ele me telefonava – lembra o editor de Opinião Nílson Souza. – Me cumprimentava com sua voz suave, lembrava algum texto da minha área para elogiar e só então apresentava o seu questionamento habitual: "Tenho dois assuntos para a minha crônica de terça. Qual o que tu achas que é mais jornalístico?". E lia os dois artigos. Eu ouvia com atenção e indisfarçável orgulho. Afinal, mesmo que por audição, naquele momento podia me considerar o primeiro leitor de textos inéditos do autor de mais de cem livros, entre os quais obras-primas da literatura gaúcha e brasileira. Antes de dar minha atrevida opinião, costumava brincar: "Isso vai para o meu currículo: um imortal da Academia Brasileira de Letras me consulta sobre o que deve escrever". Moacyr Scliar era, acima de todas as suas virtudes, um homem simples.
Para homenagear este colega simples, gentil e talentoso, vamos presentear nossos leitores com conteúdos especiais:
- No caderno DOC encartado nesta edição, Luís Augusto Fischer pergunta a 95 leitores qualificados: da ampla obra de Moacyr Scliar, em mais de 40 anos de carreira como escritor, o que ficou? O que permanece na memória de quem leu? As respostas indicam a perenidade de três romances de sua primeira fase, nos anos 1960 e 1970: O Centauro no Jardim, A Guerra no Bom Fim e O Exército de um Homem Só, três títulos que resumem os temas centrais de Scliar – a condição do imigrante judeu, a contraposição entre o local e o global, o uso de elementos fantásticos.
- Um site especial de ZH publicará, nas próximas 80 semanas, as 80 melhores crônicas de Scliar em ZH, selecionadas pela editora e colunista Cláudia Laitano. Uma por semana.
Acesse em bit.ly/scliar80anos
- A programação dos 80 anos do escritor vai até dezembro.
Confira todos os eventos e lançamentos em bit.ly/scliarzh