Às 16h57min de quinta-feira, no meio de uma reunião de planejamento do ano, brilhou na tela do meu celular a mensagem telegráfica da Silvana Pires, da sucursal de Brasília:
– Teori pode estar no avião que caiu. Familiar falou com Guilherme Mazui (repórter de Brasília). Estão tentando confirmar que ele embarcou.
Corri para a Redação. A colunista de Política Rosane de Oliveira já estava a postos.
– Falei com o filho dele pelo Whats. Me confirmou que o pai estava no avião – e me mostrou a mensagem na tela:
"Me dê notícias do teu pai, pls", escreveu Rosane às 17h. Francisco respondeu em seguida:
"Agora é rezar. Ele estava no avião. Agora é torcer por milagre".
Rosane insistiu: "É certo que ele embarcou?".
"Sim", foi a resposta das 17h2min.
Em segundos, Rosane publicou no site de ZH a informação, confirmando que o ministro Teori Zavascki estava a bordo. Concordamos, ela e eu, que não tínhamos elementos naquele momento para dizer algo a mais. Precisávamos nos ater a dois fatos: 1) o avião caiu. 2) o filho garantia que o pai tinha embarcado. E assim fizemos.
– Coloca na manchete agora – falei para a Greyce Vargas, naquele momento responsável pela capa do site.
Àquela hora, nenhum dos sites de outros jornais e emissoras havia confirmado que ele estava dentro do avião: todos sabiam apenas que o nome dele estava na lista de passageiros, mas não tinham certeza de que havia embarcado.
Rosane estava chocada. Havia dias, pedia ao filho para intermediar uma entrevista com Teori, já que o ministro, por meio da assessoria, sempre se recusava a falar com a imprensa. Na noite anterior, Francisco havia mandado uma mensagem à colunista, tirando qualquer esperança de entrevista. Desculpava-se pela hora e dizia que fizera "a última tentativa", mas que o pai continuava irredutível. "Olha aqui a mensagem, Marta", mostrou-me, trêmula. "Agora, na sequência, ele confirma a morte do pai em seu perfil no Facebook. É inacreditável".
Em momentos de notícia de grande impacto, a mobilização na Redação é imediata. Dezenas de jornalistas se organizam para apurar e distribuir informações precisas.
"Achem o Fábio Schaffner! Vamos mandá-lo para reforçar Brasília."
"Jaime (produtor de Notícias), faz a lista de todos os conteúdos online que vão entrar na sequência."
"Já foi disparado o push (alerta pelo celular) para os leitores?" (No total, foram seis pushes entre 17h19min e 19h41min.)
"Mudem a paginação do impresso. Precisamos de mais espaço!"
"Chamem de volta o repórter que estava indo para o presídio do Rio Grande do Norte, este assunto exige urgência."
"Liguem para o David Coimbra agora e peçam um vídeo."
"Humberto Trezzi precisa escrever já uma análise sobre o que muda na Lava-Jato e publicar no site o quanto antes."
"Não podemos ignorar as manifestações nas redes sociais dizendo que não foi um acidente, e sim um atentado para acabar com a Lava-Jato. Vamos fazer matéria sobre isso para descrever a desconfiança das pessoas."
"Vou reescrever a coluna que já estava pronta", avisa-me Tulio Milman, no bar.
E assim foi, num ritmo frenético, até depois da meia-noite.
Quando notícias desta magnitude acontecem, com os rumos do país se desenrolando em frente aos nossos olhos, é preciso organizar o caos e, com precisão e clareza, informar o leitor com rapidez e qualidade, seja em um alerta curto na tela do celular ou numa análise de uma página na edição do dia seguinte. Nesses momentos, fazem diferença colunistas diferenciados, jornalistas com fontes, profissionais capazes de assegurar a boa informação, de esclarecer os boatos e de fazer as análises que estarão, um dia, em teses acadêmicas e livros de História.