O investimento é alto e o trabalho é pesado. Produzir cervejas especiais, algo cada vez mais comum em Porto Alegre e no Estado, exige preparo, aplicação e uma boa dose de paixão pelo ofício. Ainda assim, quando alguém comenta que é cervejeiro, geralmente ouve: “Quem faz cerveja tem o melhor emprego do mundo”.
Pois é, a coisa não é bem assim. O trabalho é duro, mas o momento é interessante para quem mantém uma empresa, quer se lançar no mercado ou, simplesmente, aprender sobre o tema.
Capital
Porto Alegre tem uma situação bem peculiar em relação à produção de cerveja. Há um bairro que reúne quase metade de todas as 25 microcervejarias da Capital: é o bairro Anchieta, próximo ao Aeroporto Salgado Filho, que conta com 11 empreendimentos. Mas há produção também em outros locais, como no extremo sul, no extremo norte, no 4º distrito.
Uma peculiaridade desse pessoal que faz cerveja artesanal é não estar no negócio só pelo dinheiro. Geralmente são pessoas que já faziam cerveja em casa, mas vislumbraram a possibilidade de ampliar a produção transformando o amor pelo tema no seu ganha-pão.
A aposta é boa, já que o crescimento do setor no Estado é de 20 a 30% ao ano. Na Capital, a produção mensal gira em 170 mil litros por mês.
“Hoje tem bastante espaço no mercado. Claro que é preciso pensar bem no seu negócio, fazendo um bom plano de negócio porque é um mercado que está crescendo, mas quem não estiver com a empresa muito bem organizada acaba não dando certo”, avisa o presidente da Associação Gaúcha de Microcervejarias (AGM) e proprietário da Irmãos Ferraro, Rodrigo Ferraro.
Parceria
Rodrigo lembra que apesar da disputa por espaço no mercado, o clima é de parceria entre os microcervejeiros. Inclusive nas compras de insumos, o que gera economia. Eventos realizados em conjunto, com shows musicais e food trucks, são cada vez mais comuns em Porto Alegre.
O resultado da união é positivo, já que as cervejarias gaúchas, e em especial as porto-alegrenses, vem sendo reconhecidas em competições dentro e fora do país. É fácil identificar rótulos de Porto Alegre no Concurso Brasileiro de Cerveja, em Blumenau (SC), na Copa Cervezas de América, no Chile, ou na South Beer Cup, na Argentina.
Inquietações
Há muita gente produzindo e ainda há espaço para novos cervejeiros. Mas, é fácil abrir uma empresa na área? É fácil fazer o planejamento? Vou conseguir ganhar dinheiro com o meu hobby?
A boa notícia é que há apoio para quem tem essas inquietações. O projeto Fortalecer as Microcervejarias Artesanais do Estado foi criado pelo Sebrae-RS justamente para apoiar os produtores. Um grupo que começou com 40 e agora está em 50 empresas é acompanhado por técnicos e tem à disposição planejamento, cursos e consultorias.
“Em 2015 a gente começou a trabalhar na gestão. Em 2016 trabalhamos a produtividade. Agora, em 2017 e 2018 a gente vai trabalhar especificamente a área de mercado, dar visibilidade a essas cervejarias”, explica a coordenadora de Projetos da área de Alimentação e Bebidas do Sebrae-RS, Francine Danigno.
As microcervejarias já constituídas podem entrar no grupo. Há uma janela anual, em novembro. Quem ainda não montou a empresa também pode procurar auxílio junto ao Sebrae para realizar cursos e tirar dúvidas.
Quero mais
Quem não produz, mas quer conhecer mais sobre cerveja, tem algumas possibilidades. Uma delas é fazer viagens de estudos para conhecer as escolas tradicionais, como Alemanha, Bélgica e República Tcheca. O custo gira em torno de R$ 20 mil.
Também há opções mais em conta. Por exemplo, há cursos de beer sommelier pra entender tudo dos principais estilos, como India Pale Ale (IPA), American Pale Ale (APA), Lager, Weiss (cerveja de trigo), Red Ale, entre outras. Em abril, Porto Alegre vai receber o curso Sommelier de Cerveja do instituto Science of Beer. Segundo a diretora da entidade, Amanda Reintenbach, o participante sai do curso apto para trabalhar.
“O aluno aprende desde escola da cerveja, matérias-primas, processo de fabricação, os diferentes tipos de cerveja, os tipos de fermentação. O curso aborda também a parte de serviço, elaboração de carta, harmonização”, relata.
O curso ocorre durante um fim de semana por mês até julho. O valor é R$ 3.500 e pode ser parcelado. Quem pensa em trabalhar a partir da cerveja, pode atuar em lojas e empórios, bares, e restaurantes.