O aposentado Raul Tadeu Bueno, de 71 anos, tem um histórico de doenças graves. Já teve quatro infartos, possui 10 estendes e já teve câncer em três órgãos do corpo.
"Eu já estive hospitalizado aqui por infarto. Eu sofro de doenças cardíacas há muito tempo. Dr. Cristiano me convidou por achar que eu seria um paciente ideal para esta pesquisa".
Paciente do Hospital Mãe de Deus, Raul foi convidado para participar de uma pesquisa clínica realizada pela instituição. O diretor-técnico do Instituto de Doenças Cardiovasculares do hospital, Euler Manenti, explica que o estudo é sobre novos tratamentos para altos índices de colesterol. Lembra os motivos para avançar nesse tipo de pesquisa, já que o colesterol elevado é um dos principais fatores para o ataque cardíaco.
"Porque o colesterol é o principal fator no desenvolvimento no ataque cardíaco e também de alguma maneira também do derrame, que são os eventos cardiovasculares maiores. Que na verdade o infarto, o ataque cardíaco ele é o maior 'Serial Killer' que nós temos na nossa sociedade. Ele é responsável por 30% das mortes no mundo hoje", destaca.
Raul já está participando da segunda pesquisa clínica. Além de ajudar a resolver o próprio problema de saúde, espera que sua iniciativa ajuda muito mais gente.
"Eu acho que toda a participação que tem, que beneficia a humanidade, muito embora eu não saiba os resultados para a minha própria saúde, ela sempre se converte num bem para a minha própria família, para os meus descendentes. Porque eu estou doente hoje com 71 anos de idade e estou vivo, porque sempre fui atendido por excelentes médicos. Participo com o propósito de ser útil para a humanidade".
O cardiologista Euler Manenti reforça a importância das pesquisas clínicas.
"A gente realiza pesquisas clínicas para atestar a segurança de novas drogas e também, principalmente a eficácia de novas drogas. Mas também de olho na segurança dessas novas drogas".
Sobre o problema de saúde de Raul, lembra que são basicamente duas drogas usadas para regular os níveis de colesterol: as estatinas e a ezetimiba. Afirma que o estudo em andamento revoluciona o tratamento do colesterol.
"Essas novas drogas são administradas de uma maneira muito interessante para adesão dos pacientes ao tratamento, porque essas drogas não são por via oral. O paciente pode aplicar duas vezes ao mês ou uma vez ao mês", explica.
O cardiologista lembra que os medicamentos atuais para este tipo de doença são usados diariamente. O estudo é chamado de Fourier e a droga Repatha ou evolocumabe. Euler Manenti conta que nos Estados Unidos e na Europa o medicamento já está liberado pelos governos para ser aplicado em alguns casos. O médico explica o que a Repatha tem de melhor que outras drogas já existentes.
"É uma redução maior, mais intensa do colesterol. Hoje nós trabalhamos com um modelo conceitual que é: quanto menor o colesterol, melhor. Então o que se quer mostrar e saber é se essa redução maior do colesterol, também provoca redução dos eventos cardiovasculares."
Raul toma medicamentos para baixar o colesterol desde os 30 anos de idade. Atualmente, dois comprimidos por dia. Não sabe ainda da eficácia da pesquisa que está participando, mas já comemora a praticidade.
"A injeção que se auto aplica no ventre. Não é dolorida. Não tem absolutamente nenhum inconveniente. Não sinto qualquer coisa extra. Nem dor, nem coceira, nem tontura".
A seleção dos pacientes é bastante rigorosa. O grupo de pesquisa é formado por médicos, enfermeiros e farmacêutico.
"Esse paciente é seguido. Ele aprende a receber a medicação. Ele é muito bem controlado. Porque é a única maneira que a gente tem para saber a eficácia da segurança das drogas. Eles vêm periodicamente no centro de pesquisa onde eles são entrevistados, onde o médico tenta identificar todos os sintomas que o pacientes está tendo".
Euler Manenti lembra que as respostas só podem ser dadas quando todos os pacientes forem analisados. Acrescenta que o paciente não sabe se recebeu a droga ou o placebo, justamente para que não haja qualquer interferência externa ou psicológica.
"A gente não sabe se o paciente está recebendo o remédio ou o placebo. Quem está fazendo a pesquisa é cegado sobre o que está recebendo. Só um comitê independente acompanha e que sabe qual o grupo de pessoas está recebendo a intervenção ou o placebo".
O médico estima que até 2018 os resultados devam ser conhecidos. Depois, ainda precisa passar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para comercialização. No Brasil, a Anvisa já liberou para casos mais graves de colesterol.
A pesquisa sobre o medicamento é realizada pelo Instituto de Pesquisas Cardiovasculares do Hospital Mãe de Deus desde 2014. No mundo, participam cerca de 22 mil pacientes que têm doença cardiovascular e colesterol alterado. No Brasil, participam 1.030./ No Sistema de Saúde Mãe de Deus, são 63 pacientes. Resultados parciais demonstraram que a medicação é segura e promissora.
Pesquisas Hospital Mãe de Deus
O Hospital Mãe de Deus possui 825 projetos de pesquisa, dos quais ainda estão em andamento 285. A instituição realiza estudos desde o ano 2000. Atualmente, são cerca de 1.000 voluntários participando. Há uma série de profissionais envolvidos nas pesquisas acadêmicas e clínicas, que são as patrocinadas por laboratórios. O setor de oncologia concentra o maior número de pesquisas, seguido da cardiologia.
O diretor de ensino e pesquisa do Hospital Mãe de Deus, médico Antônio Crespo, conta que a instituição está investindo atualmente na implantação de um instituto de educação e pesquisa.
"Hoje nós temos uma universidade corporativa e uma área de pesquisa separadas, unidas numa mesma diretoria. O que nós queremos fazer é um instituto de educação e pesquisa, com dois braços, a exemplo do que já existe em outros hospitais do Brasil".
O médico destaca a importância das pesquisas clínicas.
"Toda a medicação, todo o procedimento, toda a tecnologia que vai ser aplicada no tratamento da saúde ela precisa ser testada. Então disso se desenvolve a pesquisa que visa mudar paradigmas e conceitos".
Sobre os voluntários, explica que alguns participam por questões econômicas, porque terão o tratamento custeado, e outros porque pode ser a última chance de tratarem a doença.
"Evidentemente que eles ficam muito entusiasmados no início com a possibilidade de melhorar a sua vida ou até mesmo de ter curada a sua condição de saúde".
Perguntado se pesquisas salvam vidas....
"Eu acho que as pesquisas salvam vidas, sim, na medida que traz benefícios, que acrescenta educação. A educação médica é de constante modificação. É dinâmico. Aquilo que é bom hoje pode não ser amanhã".
Raul também concorda.
"Salvam vidas. E salvaram inclusive a minha própria. Certamente os medicamentos que eu tomo foram estudados por muitos anos até chegar à nossa utilização humana".