Quem já enfrentou ou conviveu com pessoas que lutaram contra o câncer sabe que a vida do paciente e da família muda drasticamente a partir do início do tratamento. Quando isso envolve uma criança, ainda é preciso fazer com que ela, dentro de seu mundo infantil, enfrente situações novas e de difícil compreensão. Uma delas é a perda de cabelo. É nesse momento que entra a ONG Cabelaço, fundada há dois anos, que atua na doação de perucas aos jovens pacientes.
Em 2014, um evento realizado para a doação de cabelo deu tão certo, que os organizadores acabaram fundando a entidade. Atualmente, a Organização recebe cerca de 400 mechas por mês. Elas são encaminhadas para uma parceira, a Marry Perucas, que faz o resto do trabalho.
“Nesses dois anos, a gente já conseguir doar 75 perucas. Depende da demanda das meninas. Depende dos pedidos que a gente recebe”, relata a presidente da ONG Cabelaço, Paula Lüttjohann Rodrigues.
Pedidos
Qualquer família pode fazer o pedido na página da entidade no Facebook. O atendimento é exclusivo para crianças. Paula conta que apenas meninas receberam perucas até hoje, já que meninos preferem gorros, toucas e bonés, também doados pela entidade. Ela também revela momentos de grande emoção.
“Teve uma vez que a gente colocou a peruca em uma menina e teria que fazer um corte por que estava muito comprido, pegando no olho dela. Quando ela se olhou no espelho, abriu um ‘sorrisão’ e falou que não queria que cortasse. Ela ficou tão feliz e a gente ficou muito emocionado”.
Pré-adolescência
Renata Costa é mãe de Mariana, uma das meninas que recebeu uma peruca. Mari, como é chamada em casa, foi diagnosticada com leucemia aos três anos e meio. Com cinco, a doença foi extinta. No entanto, houve uma recidiva aos seis anos. Com mais uma quimioterapia, que foi até o início deste ano, ela voltou a perder os cabelos. A diferença é que agora ela está maior e, claro, a preocupação com a aparência também aumentou.
“Ela decidiu que agora ela precisava da peruca que é o lado mais mocinha. E foi mágico, mágico. De olhinho brilhar. Ela teve a opção de escolher entre mais de um modelo. Foi lindo, lindo, emocionante”, conta Renata.
Mari está em acompanhamento desde março e não possui mais nenhum sintoma da doença. Renata, que tinha o cabelo com mais de 30 centímetros de comprimento, doou as mechas nesta sexta-feira (9) para que outras mães possam ter a mesma experiência que ela.
Doação
Muita gente deixa o cabelo crescer com o único propósito da doação. O apresentador do programa Time Line da Rádio Gaúcha e Pretinho Básico da Rádio Atlântida, Luciano Potter, foi esperando para ir ao cabeleireiro e, quando viu o tamanho das madeixas, decidiu esperar mais para doar.
“Vou aliar as duas coisas. Vou cortar o cabelo, vou transformar esse cabelo com quem é profissional numa peruca e, neste momento em que a autoestima precisa ser tão alta, é importante para as pessoas. O tratamento é muito pesado e, por incrível que pareça, o cabelo faz parte da autoestima, principalmente, das crianças”, diz.
Hospital
Para a gerente hospitalar do Hospital da Criança Santo Antônio, Swetlana Cvirkun, trabalhar com a autoestima das crianças é muito importante em um período tão difícil para elas.
“Percebemos que as meninas se importam mais e para elas é algo fantástico. As famílias também ficam muito felizes”, relata.
Como doar
A ONG Cabelaço possui três pontos de coleta:
- Hospital da Criança Santo Antônio: fica no Complexo Hospitalar Santa Casa, no Centro de Porto Alegre.
- Loja Casa Dick: na Avenida Vitor Barreto, 2.958, Centro, Canoas.
- Via Correios: enviar para Caixa Postal 58, CEP 92010-300, Canoas.
O cabelo tem que estar com 15 centímetros de comprimento ou mais. A pessoa pode fazer em casa. Amarra com uma borrachinha de dinheiro (atílio), fazendo um rabo de cavalo, e corta reto, em cima da borracha. O cabelo pode ser liso, crespo, pintado ou com química, mas ele tem que estar seco.