As videolocadoras estão praticamente em extinção no Estado. Em dezembro do ano passado, a reportagem da Rádio Gaúcha mostrou que havia 378 estabelecimentos registrados no sistema da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de Porto Alegre (Smic). Na época, o número já não era considerado exato, porque algumas empresas não dão baixa no alvará quando fecham. Agora, em agosto deste ano, são 107 lojas que, entre outras atividades, alugam filmes. A queda é de 70% em oito meses. Considerando o alerta da Smic, é possível que esse número, na realidade, seja ainda menor.
Motivos da crise
O gerente da videolocadora de Porto Alegre "E o Vídeo Levou", Charles Souza Schumacher, conta que a loja foi a primeira do Rio Grande do Sul construída para esse fim, enquanto outras alugavam casas e outros espaços para funcionar. Hoje, o estabelecimento está diminuindo a estrutura para reduzir custos. A "E o Vídeo Levou" tentou agregar produtos e serviços, como a venda de camisetas e pôsters, mas a crise, conta Charles, foi inevitável. Entre os motivos, está a popularização dos smartphones, além da TV a cabo e até a falta de tempo das pessoas, que acabam preferindo assistir seriados em vez de filmes.
"Vou dar um exemplo, um título X, se a gente pegava cinco títulos para comprar, hoje a gente pega um e dependendo nem pega mais. Até porque tem outro fator, que é o que mais interfere pra nós, o público jovem já não vem tanto, é um público de mais idade. Nosso grande problema é que como diminuiu muito o numero de locadoras no Estado, as produtoras não tem mais interesse de vir pra cá. Se antes a gente recebia, digamos, 15 títulos por semana, hoje a gente recebe isso por mês", relata.
Videolocadora fechada devido à pirataria
Valquíria Martins foi proprietária de uma videolocadora no bairro Medianeira, em Porto Alegre, por quase 20 anos. Ela encerrou as atividades do estabelecimento em 2010. Além da tecnologia, do Netflix de serviços on demand, ela acredita que a pirataria foi um dos principais responsáveis pela crise que afeta o setor.
"Quando começou os DVDs foi muito fácil de piratear e a concorrência era muito desleal. A gente chegava a pagar um filme original R$ 100 na época e os caras vendiam três filmes por dez reais, e tu não precisava devolver o filme para a locadora. Foi uma coisa bem rápida. Começou aos poucos, mas as pessoas aderiram muito rápido a isso", opina.
Diversificar as atividades para sobreviver
O tesoureiro da Associação Gaúcha de Videolocadoras (Agavídeo), Régis Reginato Russkowiski, mantém a "Vídeo Center" há 16 anos em Santo Ângelo, nas Missões. Ele conta que o município chegou a ter 38 videolocadoras, hoje tem apenas seis. Russkowiski também destaca que as distribuidoras de filmes não têm mais interesse nas locadoras, o que dificulta ainda mais o trabalho delas, que têm poucas novidades a oferecer aos clientes.
Régis Russkowiski relata que hoje, algumas videolocadoras estão diversificando os serviços, vendendo material de papelaria, criando lanchonetes e sorveterias, vendendo chips e oferecendo recarga de celular.
"A gente vai tentando agregar outras coisas ao negócio, aproveitando a clientela e o ponto que a gente tem, até o ponto em que a locadora vai se transformar em um pedacinho pequeno dentro na tua loja. Mas sempre vai ter aquelas pessoas que querem assistir a um filme especial, alguém que quiser assistir o Tempo e o Vento, não consegue baixar, e a qualidade é horrível. Aí, tem que ir pra locadora", acredita.
O tesoureiro da Agavídeo acredita que ainda existe espaço para as videolocadoras. Hoje, a clientela é um público adulto, que procura filmes de qualidade e ainda gostam de receber a indicação dos estabelecimentos. Outra demanda é de escolas e universidades, que ainda utilizam filmes clássicos em sala de aula.