Nas reportagens anteriores, fizemos um raio x do emprego em 2015, um dos piores anos da história para empregados e empregadores. Relatamos as dificuldades da indústria metalmecânica, da construção civil, do comércio, do serviço. Também encontramos quem nem parecia ter passado por um ano de crise, como a Agropecuária e algumas empresas da indústria de alimentos e móveis. Fomos até a fila de agências de emprego conversar com trabalhadores que foram demitidos e sofrem para conseguir nova oportunidade. Também contamos histórias de quem deixou a cidade natal para buscar oportunidades nos grandes centros.
Os números do desemprego em 2015 no Brasil praticamente falam por si. Foi um dos piores anos registrados pelo Cadastro Geral de Empegados e Desempregados (Caged). E o que esperar de 2016? Há uma luz no fim do túnel? Fomos buscar as respostas com economistas, empresários e autoridades.
Simone Magalhães é professora de Economia da Unisinos e presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul. Para ela, 2016 será tão complicado quanto 2015 em termos de emprego.
“Em função de a gente já começar o ano com dólar alto, taxa de juros alta, inflação acima dos dois dígitos, a gente não consegue ver um cenário muito favorável. Nós temos ano de eleição, nós temos Olimpíada... Se a gente pensar o nosso ano vai terminar em maio. 2016 vai ser um ano muito difícil de novo”, lamenta.
Presidente do Corecon-RS, Simone Magalhães, projeta 2016 ainda mais complicado para o emprego (foto: Divulgação - Corecon-RS)
No setor de comércio e serviço, a projeção também não é boa, como destaca o presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn.
“Não deve melhorar. Isso deve se agravar um pouco mais, inclusive. Um ano mais difícil que 2015. Esse cenário começou a aparecer em 2015 e ele vai se agravar em 2016. Não por vontade das empresas”.
Luiz Carlos Bohn diz que demitir é uma decisão muito difícil para o empresário (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
O economista-chefe da Federasul, André Azevedo, chega a ter saudade de 2015, apesar de um ano péssimo para as empresas.
“Nós vamos ter taxas de desemprego muito mais elevadas que tivemos no ano passado e uma perda muito grande, especialmente de empregos formais e especialmente nos setores mais dependentes do crédito”.
Economista-chefe da Federasul, André Azevedo, é mais um que está pessimista para 2016 (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
Até mesmo o setor agropecuário, que em 2015, junto com a Administração Pública, criou postos de trabalho, deve sofrer os efeitos da crise em 2016. O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, cita que além do clima que deve ser desfavorável, os gastos para produzir aumentaram.
“A crise chegou no agronegócio. Nós tivemos uma elevação no custo de produção muito significativa. A safra que está plantada agora, está se desenvolvendo, que nós vamos colher em abril e maio, nós temos um custo de produção aumentado em 25%. Nós acreditamos que se nós conseguirmos manter os empregos de 2015, nós estaremos fechando 2016 bem melhor que os outros setores e num melhor cenário do que é possível”.
Economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, diz que até a Agropecuária deve ser afetada em 2016 (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
O presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Assistência Social (FGTAS), Juarez Santinon, espera um 2016 melhor na oferta de emprego, mas avalia que ainda é cedo para projeções.
“Talvez em alguns setores a gente tenha até uma retração maior e possa causar ainda um desequilíbrio entre a criação e a demissão de pessoas”.
Diretor-presidente da FGTAS, Juarez Santinon (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
A economista Lúcia Garcia é coordenadora nacional da pesquisa de emprego e desemprego do Dieese. Está entre os poucos otimistas que projetam 2016 melhor do que 2015.
“Para 2016, uma perspectiva, um quadro mais otimista, de um desemprego mais estabilizado, ficando no patamar de 12 e 13% no primeiro semestre de 2016. E com perspectiva já de uma tendência de redução do desemprego no segundo semestre de 2016”.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil, Ricardo Sessegolo, avalia que resta a criatividade para as construtoras num momento como esse, com a economia desaquecida.
“O grande desafio para 2016 é manter as nossas empresas vivas. Se possível manter esse volume do emprego. Não acontecer mais demissões”.
Ricardo Sessegolo afirma que a preocupação vai além do emprego (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
Para a indústria metalmecânica, o presidente do Sinmetal, Gilberto Petry, não vê possibilidade de melhora no emprego enquanto a atividade econômica não melhorar.
“Ninguém vai comprar uma caldeira, uma prensa viradeira se não precisa. Ou uma usina de asfalto se não precisar. Isso não existe. Pode baixar o preço que não vai comprar”.
Petry diz que primeiro a economia precisa voltar a ficar aquecida, para depois o emprego estabilizar (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
O Ministério Público do Trabalho está preocupado com a precarização do emprego durante a crise. O procurador-chefe do MPT no Rio Grande do Sul, Rogério Uzun Fleischmann, lembra que a situação recente de pleno emprego qualificava a relação de empregado e empregador, diferente do momento atual.
“Muitas vezes o trabalhador acaba por conta da situação de fragilidade, ele acaba se submetendo mais a condições menos favoráveis de trabalho. É interessante ver o que vai acontecer agora”.
Procurador-chefe do MPT no RS teme pela precarização do trabalho durante a crise (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
O ministro do Trabalho e Previdência Social admite que a crise política tem um peso importante no resultado da economia e consequentemente no aumento do desemprego. Miguel Rossetto espera o término desse problema o quanto antes.
“A crise política cria uma situação de incerteza. Cria uma situação de insegurança e isso tem impacto numa perspectiva de cenários econômicos. Bem por isso a perspectiva de 2016 é outra. Eu acredito num cenário de maior estabilidade política”, destaca Rossetto.
Rossetto afirma que medidas anunciadas pelo Governo vai resultar em melhora na economia em 2016 (foto: Divulgação)
Rossetto afirma que medidas foram tomadas para tentar reaquecer a economia.
“O governo fez movimentos importantes em 2015 do ponto de vista da economia brasileira e nós trabalhamos para a recuperação do crescimento econômico para o Brasil e para o Rio Grande”.
O ministro lembra algumas das medidas anunciadas na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
“A alteração, a mudança do câmbio já começa a estimular a exportação do país. Nós acreditamos em novos investimentos, principalmente na infraestrutura e logística do país. A redução da inflação estimula o mercado interno do país”.
Apesar da maioria dos economistas, empresários e autoridades ouvidos nessa reportagem não estar nem um pouco otimista quanto à melhora da economia em 2016, a torcida é para que os índices de desemprego não sejam tão elevados. Para ajudar, por exemplo, seu Artur, de 61 anos, que ouvimos na primeira reportagem da série.
“Vinte e cinco anos de profissão e nunca fiquei parado. Primeira vez é agora que aconteceu”.