Desde 15 de janeiro de 2013 nenhuma videolocadora abre em Porto Alegre. Segundo a Secretaria de Indústria e Comércio (SMIC) nenhum pedido de abertura foi registrado há quase três anos e atualmente 378 estabelecimentos do tipo estão registrados na capital. Mas a própria SMIC alerta que esse número não condiz com a realidade, já que as empresas não dão baixa no Álvaro quando fecham. Com a facilidade de encontrar filmes na internet, os serviços on demand como a Netflix o serviço de locação ficou quase esquecido. Eu digo quase, porque alguns usuários que gostam de ver filmes antigos ainda precisam caminhar por corredores em busca de clássicos. É o caso do Thales Carvalho Silveira.
“O mais importante de tudo é o contato com eles. Hoje tu assinas filme, vê filme. A locadora é o mesmo que livraria. Aquele cara que lê que compra livro, ele vai à livraria, ele folheia o livro, ele lê, ele conversa com o livreiro. A mesma coisa acontece com quem gosta de cinema.”
Em Santo Ângelo, Regis Reginato, que é tesoureiro da Associação Gaucha de Videolocadoras, mantém a VideoCenter e relata que percebe o encolhimento do mercado. A cidade que tinha 12 estabelecimentos agora tem apenas sete e ele já aposta no fim da operação.
“Sim as locadoras vão ser extintas! Como foram extintas as lojas de CD. Eu espero ainda mais uns dois ou três anos. Até lá nós vamos ter que mudar o ramo. A partir de 2016 nós vamos ter que pensar em alguma coisa. Eu acho que a locadora vai continuar ainda por um período, mas temos que nos preparar para uma mudança.”
Aqui em Porto Alegre, mas precisamente no começo do viaduto da Borges de Medeiros numero 962, a Myrta Westenhofen trabalha há 26 anos com a videolocadora Classe A, mas ela descreve um cenário dramático. O número de clientes reduz a cada mês e nem o aluguel do local ela consegue pagar, precisa usar dinheiro da aposentadoria.
“A Netflix eu acho que é a maior culpada de tudo isso. É o que ela está querendo, matar de vez as locadoras. Só que tem muita gente que vai sentir. Tem pessoas que elas não querem saber de baixar. Elas não gostam de TV a cabo porque reclamam que os filmes repetem demais. Reclamam da TV aberta que só ter porcaria. Os clientes que vem na locadora é isso que eles me passam.”
E não é só uma questão de negócio que está em jogo, mas sim de paixão pelo cinema e pelos filmes.
“Daqui um pouco vão dizer: ‘é no tempo da locadora, na era da locadora’. Eu acho que é uma grande perda pra cultura em geral. Eu acho lamentável. Eu disse, eu vou ficar até onde eu conseguir. Provavelmente eu vou ser uma das ultimas locadoras. Mas realmente eu estou vendo que não tem alternativa. Esta nessa situação. Eu que gosto de cinema e estou no mercado há 26 anos, é muito triste, esta sendo muito doido. Eu sinto uma dor muito grande, a cada filme que eu vou vendendo, é uma dor, parece que é um filho que esta indo (choro)...”
Segundo a União Brasileira de Vídeo, entre 2003 e 2005 havia quase 14 mil locadoras no Brasil. Em 2009, esse número caiu para 6 mil. Atualmente, são menos de 4 mil locadoras em todo o país.