Na semana em que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, classificou o Presídio Central de Porto Alegre como lamentável - afirmando que o preso sai do local pior do que entrou -, o Super Repórter foi até as imediações da penitenciária saber quem são as pessoas que ganham seu sustento com as visitas de esposas e familiares de apenados deste que é considerado um dos piores presídios do País.
Percorrendo a Vila João Pessoa, próximo do Central, é possível perceber um comércio que se adaptou à realidade do seu entorno. Donos de mercadinhos ao lado do presídio passaram a alugar roupas para as visitantes. Isso acontece porque muitas mulheres chegam lá desprevenidas, sem o traje adequado para entrar na casa de detenção e acabam sendo barradas.
Na frente do presídio, Marcia Silva ajeita os cabelos, retoca o batom e se prepara para mais uma visita ao marido, que cumpre pena por tráfico de drogas há 5 anos. Ela chega a gastar R$ 300 por mês na compra de roupas no comércio ao lado da penitenciária, já que muitas vezes é barrada na revista, com a vestimenta que vem de casa.
"Às vezes eu até consigo passar mais bonitinha pra visitar meu marido dentro do Central, mas quando sou barrada, compro roupas aqui do lado. Venho de longe e não costumo trazer roupas reservas na bolsa", afirma Marcia.
Para fazer a visita aos presos, as mulheres precisam se submeter a normas rígidas de segurança, que restringe desde a cor das roupas, decotes e roupas curtas. Também não é permitida a entrada de mulheres com roupas com as cores idênticas a de empresas que prestam serviço na penitenciária.
Até mesmo o salto alto é proibido. E para atender a esta demanda, muitos bares que ficam ao lado do Central passaram a oferecer o aluguel de roupas para quem ainda não conhece as regras.
Katielen Silveira passou a oferecer o serviço há um ano, e chega a ter um lucro de R$ 1,5 mil por mês com esposas que buscam uma boa aparência no encontro com o parente presidiário.
"Sustento minha casa com a movimentação de famílias que visitam os parentes aqui no Presídio Central. Vendo roupas, alimentos e kits de higiene. Como já sei o que passa ou não na revista, fica bem mais fácil", afirma a comerciante.
E um detalhe importante: grande parte dos comerciantes que abriram seu próprio negócio nas proximidades do Presídio Central são ex-presidiários. Homens que até pouco tempo estavam atrás das grades e que agora vendem roupas e kits de alimentação para os parentes dos apenados. Dos 13 lugares visitados pelo Super Repórter, oito possuem ex-detentos trabalhando.
Luiz Carlos Silva saiu do Presídio Central em 2012, onde cumpriu pena por tráfico de drogas, e não conseguiu emprego em nenhum local de Porto Alegre ou na Região Metropolitana. E bem perto de onde estava preso achou a solução para pagar suas dívidas. Abriu uma banca praticamente ao lado do Central e hoje consegue sustentar a família com o lucro adquirido na movimentação das visitas ao local.
"Bati na porta em mais de 35 lugares na Capital e na Região Metropolitana e não fui empregado em nenhum setor. As pessoas não confiam em ex-presidiário. A única solução que encontrei foi abrir uma banca. Agora vendo pastéis, sanduíches e sucos, e chego a arrecadar R$ 700", diz Silva.
Na semana passada, em seu primeiro dia de visita ao Presídio Central, o juiz João Marcos Buch observou que a estrutura física é preocupante e lamentável.
“Chega a impressionar. O problema de saneamento básico, principalmente, e como os detentos vivem lá dentro. Nós temos que ter a compreensão que não se busca aqui soltar alguém. As pessoas que lá estão, na sua maioria, praticaram algum ato que a lei classifica como criminoso. Mas essa mesma lei deve ser usada para dar condições mínimas de vida dentro de uma unidade prisional. Eu não percebi, inicialmente, essa atuação do Estado para oferecer essa estrutura mínima”, avaliou Buch na semana passada.
E assim segue a rotina de parentes de 4 mil apenados que estão neste momento no Presídio Central. Vivendo e sobrevivendo seja dentro ou fora do presídio.