O Super Repórter deste sábado fez um passeio por Porto Alegre com o olhar escuro de um deficiente visual. Uma capital barulhenta e sem uma sinalização sonora adequada, assim define grande parte dos 5,5 mil deficientes visuais de Porto Alegre. A jornalista Camila Nunes sente dificuldades em caminhar pela área central da cidade. Segundo ela, o problema maior é a falta de estrutura nas ruas.
“Mesmo com pressa, as pessoas acabam me ajudando, seja atravessando uma rodovia movimentada ou passando alguma informação. Difícil mesmo é andar no Centro da Capital. As sinaleiras não possuem nenhuma sinalização sonora e o tempo para atravessar é muito curto. Sem falar das calçadas que apresentam irregularidades”, relata Camila.
A vendedora Paula Silva sofre com uma doença rara nos olhos. Ela tem apenas 5% da visão. Pegar ônibus e atravessar as ruas estão, entre as principais dificuldades no cotidiano de Porto Alegre.
“Os motoristas dos ônibus muitas vezes não esperam, chego a ficar 45 minutos em algumas paradas da Avenida Ipiranga, se alguém não me ajudar me atraso com meus compromisso profissionais”, lamenta a vendedora.
O deficiente visual Ricardo Souza, já se acostumou a pechar nos outros, cego desde os 14 anos, Ricardo fez uma escolha: decidiu levar a vida no escuro com bom-humor, segundo ele, a falta de cores em sua vida é compensada pela sobra em simpatia.
“A vida do cego é muita engraçada. Se o deficiente visual souber tirar proveito deste fato terá uma vida bem animada. Todos os dias acabo colidindo com outras pessoas, e destes choques pessoais já conheci muitos amigos e até namoradas. Se uma pessoa normal bate na outra é xingada, se um cego dá um encontrão vira amigo, é bonitinho, é um grande barato. Eu amo ser ajudado, tem muita gente braba, mas muitas pessoas simpáticas e boas”, confirma Ricardo.
A boa ajuda é bem-vinda, mas a pena incomoda, é o caso de Cássia Silva, que perdeu a visão a dois anos. Segundo ela, ser deficiente visual não é motivo para ser uma coitada. Cássia diz que grande parte dos moradores da Capital sentem pena dela.
“É legal ser ajudada, mas não gosto deste clima de comoção que se cria perto de mim. Posso não ter mais as cores perto de mim, mas os meus sentimentos ainda são fortes, então consigo captar este sentimento de pena que muitas pessoas transmitem. Isso não é legal, sou normal, me sinto bem”,
E não basta ter uma vida normal, é preciso uma vida feliz e completa. Afinal, amor não se enxerga, amor se sente. E assim, começou o primeiro namoro de Paula, de 16 anos, deficiência que não atrapalha o relacionamento.
“Comecei o meu namoro por acaso. Conheci meu companheiro atravessando a rua, depois sentamos um do lado do outro no ônibus, e ele me levou até a minha casa. No outro dia, lá estava ele novamente na parada onde eu pego ônibus. Meu namorado diz que ele é os meus olhos e que eu sou o coração e estamos bem felizes”, comemora Paula.
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