A poucas horas do início da investigação sobre as causas da morte do ex-presidente João Goulart, representantes do governo federal chegaram a São Borja e reforçaram o caráter histórico que reveste a exumação do corpo, marcada para a manhã desta quarta-feira (13). "É um momento histórico. Todo país democrático tem o dever de colocar a história aos olhos de todos", disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Segundo ele, o trabalho busca elementos para esclarecer fatos nebulosos do período do regime militar instalado após o golpe de 1964. "Familiares tem direito a saber como e porque morreram seus parentes. Cidadãos tem direito de saber como morreram seus lideres. A história tem papel importantíssimo para diferenciar o que se deve repetir e o que não se deve voltar a viver", complementou.
Já a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, frisou que a exumação atende pedido da família. "Resgatar o presidente Joao Goulart é resgatar nossa vivência democrática diante do ato que a ditadura produziu no Brasil", afirmou. Ambos evitaram comentar os possíveis resultados da perícia e o prazo para apresentação dos resultados. "É um trabalho estritamente técnico que não tem interferência do governo brasileiro. Não há atuação política no trabalho de perícia", complementou a ministra.
Durante audiência pública no CTG Tropilha Crioula na noite desta terça-feira, o filho de Jango, João Vicente Goulart, afirmou que a exumação representa a reconstrução da história, independente dos resultados sobre a causa da morte. "1964 não foi um golpe contra Jango, e sim, um golpe contra a Constituição e o povo, com apoio da CIA e dos Estados Unidos", disse.
A Policia Federal foi cautelosa ao comentar a viabilidade dos resultados dos exames que serão realizados. O chefe dos peritos, Amauri Martins de Souza Junior, salientou que tudo dependerá do estado em que os restos mortais serão encontrados dentro do túmulo. Serão analisados pelo menos 10 tipos de substâncias químicas que podem ter sido utilizados para provocar a morte do ex-presidente enquanto vivia na província de Corrientes, na Argentina. Ao todo, 14 pessoas integram o Grupo de Trabalho responsável pela exumação, entre peritos e observadores internacionais da Argentina, Uruguai e Cuba.
Durante o ato público, que atraiu cerca de 250 pessoas, os ministros asseguraram publicamente o retorno dos restos mortais a São Borja, previsto para o dia 6 de dezembro, aniversário de 37 anos da morte de Jango. Na data, será feito sepultamento com honras de Chefe de Estado, o que não ocorreu quando ele morreu no exílio e foi trazido ao Rio Grande do Sul. Ele foi o único presidente da história do Brasil que faleceu fora do país.
Gaúcha
"Todo país democrático tem o dever de colocar a história aos olhos de todos", diz ministro da Justiça sobre exumação de Jango
Serão analisados pelo menos 10 tipos de substâncias químicas que podem ter sido utilizados para provocar a morte do ex-presidente
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: