Os rebeldes que lançaram uma ofensiva relâmpago na Síria anunciaram neste sábado (7) a tomada da cidade estratégica de Homs, ao norte de Damasco, e se aproximam da capital, onde o governo garantiu ter estabelecido um cordão de segurança impenetrável.
O grupo islamista sírio Hayat Tahrir al Sham (HTS) publicou no Telegram que suas forças controlam toda a cidade de Homs, enquanto seu líder, Ahmed al Chareh, classificou a vitória como "histórica".
O Ministério da Defesa sírio negou a alegação e descreveu a situação como "segura e estável".
A captura de Homs, a terceira maior cidade da Síria, localizada a 150 km de Damasco, separaria a sede do poder na capital da costa mediterrânea, um importante reduto do clã Assad, que governa a Síria há cinco décadas.
Homs seria a terceira grande cidade tomada pelos rebeldes liderados por islamistas desde o início de sua fulminante ofensiva em 27 de novembro, uma reviravolta inesperada na guerra civil iniciada em 2011.
Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), anunciou que "facções rebeldes entraram na cidade de Homs e tomaram alguns bairros". O observatório, sediado no Reino Unido, conta com uma extensa rede de informantes na Síria.
Já o comandante da aliança rebelde, Hasan Abdel Ghani, afirmou pelo Telegram que mais de 3.500 detentos de uma prisão de Homs foram libertados e que quatro cidades foram tomadas.
"Com a graça de Deus, conseguimos libertar quatro cidades sírias em 24 horas: Daraa, Quneitra, Sweida e Homs. Nossas operações continuam (...) e nossos olhos estão voltados para a capital, Damasco", acrescentou Ghani.
Aron Lund, membro do grupo de reflexão Century International, apontou que a perda de Homs não significaria necessariamente o fim do governo do presidente Bashar al Assad, mas alertou que "sem uma rota segura de Damasco para o litoral, eu diria que o governo acabaria como entidade estatal crível".
Em Damasco, o ministro do Interior, Mohamed al Rahmun, declarou à TV estatal que a capital possuía um "cordão militar e de segurança muito forte". "Ninguém (...) pode penetrar esta linha de defesa que nós, as forças armadas, estamos estabelecendo", disse.
- "Medo" -
"Nossas forças começaram a fase final de cercar a capital, Damasco", afirmou o comandante Ghani, do grupo islamista HTS.
"Damasco espera por vocês", escreveu no Telegram, usando seu nome real em vez de seu nome de guerra, Abu Mohamed al Jolani.
O exército sírio indicou que estava reforçando suas posições ao redor de Damasco, assim como no sul e nas regiões de Hama e Homs, no centro do país.
A situação é difícil de verificar de forma independente. Embora alguns colaboradores da AFP estejam em áreas controladas pelos rebeldes, a agência não tem, no momento, repórteres próximos a Damasco.
Moradores da capital descreveram cenas de pânico, com pessoas correndo para sacar dinheiro ou comprar alimentos. "A situação não estava assim quando saí esta manhã. De repente, todo mundo começou a ter medo", contou Rania, uma residente.
A poucos quilômetros de distância, o cenário era totalmente diferente. Em um subúrbio de Damasco, manifestantes derrubaram uma estátua de Hafaz al Assad, o falecido pai do atual presidente, segundo testemunhas.
Imagens da AFPTV gravadas em Hama mostraram tanques e veículos blindados abandonados, um deles em chamas.
Kharfan Mansour, um morador da cidade, disse que estava "feliz pela libertação de Hama e pela libertação da Síria do regime de Assad".
Bashar al Assad assumiu o poder em 2000, sucedendo a seu pai, que governava o país desde 1971.
- Soldados "fugiram" -
De acordo com o OSDH e Abdel Ghani, os rebeldes estão a menos de 20 km de Damasco.
A organização indicou que as forças governamentais perderam o controle da província de Daraa, no sul do país e berço da revolta de 2011. Também informou que tropas evacuaram posições em Quneitra, perto das Colinas de Golã, anexadas por Israel.
O exército sírio anunciou que estava "redistribuindo e reposicionando" suas forças em Daraa e na província de As-Suwayda, também no sul.
Uma fonte de segurança iraquiana disse à AFP que Bagdá permitiu a entrada de centenas de soldados sírios, que "fugiram da linha de frente" através da passagem de fronteira de Al Qaim. Uma segunda fonte estimou o número em 2.000 soldados, incluindo oficiais.
Pelo menos 826 pessoas, incluindo mais de 100 civis, morreram desde o início da ofensiva em 27 de novembro, segundo o OSDH. A ONU, por sua vez, relatou 370 mil deslocados nesse mesmo período.
O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, pediu que se "evite um banho de sangue" e que "os civis sejam protegidos de acordo com o direito humanitário internacional".
As forças de Assad, que contam com um apoio militar significativo da Rússia e do Irã, nunca perderam tantas cidades em tão pouco tempo desde o início da guerra civil em 2011, que deixou mais de 500 mil mortos.
O conflito dividiu o país em zonas de influência controladas por potências estrangeiras.
A Rússia, principal aliada do regime, instou seus cidadãos a deixarem o país, assim como os Estados Unidos e a Jordânia.
O apoio militar russo, crucial para o regime em 2015, foi reduzido devido à guerra na Ucrânia, enquanto Irã e o movimento islamita libanês Hezbollah, enfraquecidos por conflitos com Israel, enviaram reforços limitados.
* AFP