Os delegados da COP29 em Baku prosseguiam neste sábado (16) com poucos resultados após uma semana de negociações, mas acreditam que a reunião de cúpula do G20 no Rio de Janeiro e a chegada dos ministros podem desbloquear o cenário.
"Ainda há muito caminho a percorrer, mas todos têm consciência do que está em jogo, na metade da COP", declarou o secretário-executivo da ONU Clima, Simon Stiell.
"Há muito, muito por fazer", reiterou Samir Bejanov, um dos negociadores da presidência azerbaijana da conferência da ONU.
Baku é cenário de uma disputa entre os países ricos e as nações mais desfavorecidas, que reivindicam globalmente 1,3 trilhão de dólares (7,5 trilhões de dólares) por ano para o financiamento da luta contra as mudanças climáticas até 2030.
Uma nova proposta de documento sobre o financiamento circulou na sexta-feira à noite, mas com várias opções em aberto nas suas 25 páginas, antes da chegada dos ministros no início da próxima semana para os últimos dias da cúpula, que se termina oficialmente em 22 de novembro.
"Ainda não há um sinal claro sobre a direção porque o texto não está suficientemente sintetizado, ainda há muitas opções sobre a mesa", disse um observador à AFP.
A COP29, organizada no Azerbaijão, deve ser concluída com um "Novo Objetivo Quantificado Coletivo", ou NCQG na sigla em inglês.
A nova meta substituirá a adotado em 2009 e alcançada em 2022, que estipulava que os países ricos deveriam proporcionar 100 bilhões de dólares (579 bilhões de reais) por ano para ajudar o mundo em desenvolvimento a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa a na adaptação à mudança climática.
Mas em Baku persistem muitas incógnitas a respeito do desafio: quem deve pagar, que tipo de financiamento incluir no total... e, acima de tudo, qual o valor?
Um observador relatou um ambiente "tenso" na sala de negociações informais na sexta-feira. Mas outro negociador explicou que as reuniões paralelas entre as grandes potências estavam sendo construtivas.
- "Impulso" -
O valor de 1,3 trilhão de dólares por ano já está começando a fazer barulho entre vários países ocidentais, que admitem que seus fundos públicos só poderão cobrir parte da quantia.
Para alcançar a meta, os países contam com o setor privado, os bancos multilaterais ou novos contribuintes, como a China.
"Sabemos que pelo menos 1,3 trilhão são necessários para os países de baixa ou média renda. Este é o número, mas a pergunta é como será constituído", declarou durante a semana o ministro irlandês Eamon Ryan.
Uma fonte diplomática francesa também admitiu a necessidade de chegar a um acordo em Baku, mas alertou que as negociações estavam "estagnadas".
Os enviados europeus, que evitaram mencionar um valor específico até o momento, compartilham sua frustração por ainda terem que discutir um texto muito denso.
"Estamos muito preocupados com o retrocesso, após um ano de negociações prévias", afirmou esta semana o delegado da União Europeia, Jacob Werksman.
Neste contexto, os enviados viram um gesto positivo por parte da China, quando Pequim mencionou e divulgou valores, pela primeira vez, de seus "investimentos em ação climática nos outros países em desenvolvimento".
"É muito urgente que os líderes mundiais que se reúnem para o G20 no Rio deem um verdadeiro impulso político e energia", para evitar o fracasso das negociações, advertiu Friederike Röder, da ONG Global Citizen.
O G20 reunirá na segunda e terça-feira no Rio de Janeiro os líderes das principais potências econômicas do mundo. O Brasil tenta encontrar uma solução para a questão financeira antes da COP30, que o país receberá em 2025 na cidade de Belém, segundo vários negociadores e observadores.
"Os líderes do G20 têm que afirmar de maneira alta e forte que a cooperação internacional continua sendo a melhor e única opção para a humanidade sobreviver ao aquecimento do planeta", reiterou Simon Stiell.
* AFP