
O Ministério Público da França pediu, nesta segunda-feira (25), a pena máxima, 20 anos de prisão, para Dominique Pelicot por drogar, durante uma década, sua agora ex-mulher Gisèle Pelicot para estuprá-la com dezenas de homens, atos classificados como "abjetos".
— Vinte anos (...) é muito e muito pouco. Muito pouco levando em consideração a gravidade dos atos cometidos e repetidos — afirmou a promotora Laure Chabaud durante o julgamento em Avignon, sul da França.
O julgamento do ex-marido começou no dia 2 de setembro, na cidade de Avignon, sul do país. Os suspeitos de participação nos crimes tinham entre 26 e 74 anos no momento dos estupros, segundo o g1.
Dominique Pélicot admitiu culpa. Outros 35 declararam inocência, enquanto 13 se consideraram culpados; um está foragido e outro faltou ao julgamento. Desses, 18 já estão em prisão preventiva.
Entenda o caso
Gisèle descobriu que havia sido estuprada em 19 de setembro de 2020, quando a polícia indiciou seu então marido por filmar sob as saias de três mulheres. Ao ser intimada a depor, a vítima foi confrontada por vídeos do computador de Dominique que registravam os estupros. Eles foram casados por 50 anos e tiveram três filhos e sete netos.
— Em 50 anos não tivemos uma vida linear, mas sempre nos mantivemos unidos. Problemas financeiros, problemas de relacionamento, problemas de saúde... Sempre apoiei meu marido. Tenho um sentimento de nojo, tínhamos tudo para sermos felizes, tudo. Não entendo como ele conseguiu chegar a isso — comentou no tribunal.
A francesa abriu mão do anonimato na tentativa de impedir que crimes como esse aconteçam novamente.
Desde 2011
As investigações encontraram evidências de pelo menos 92 estupros cometidos desde 2011, quando o casal vivia em Paris. A maioria dos episódios aconteceu entre 2013 e 2020, quando viviam em Mazan, no sul da França.
Dominique aplicaria um ansiolítico forte na esposa até a deixar inconsciente. Depois orientava os homens, achados em um site de encontros, a não a acordarem.
Em depoimento, Dominique disse que não pedia dinheiro em troca e informava os coacusados de que a esposa estava drogada sem consentimento. Segundo os especialistas envolvidos no julgamento, os 50 réus não sofrem de nenhuma patologia psicológica significativa — inclusive, muitos afirmaram acreditar que participavam de fantasias do casal.
Gisèle ressaltou a participação das outras pessoas na situação:
— Estes senhores permitiram-se entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Estupraram-me com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida.