O líder da oposição moçambicana pediu a seus apoiadores três dias de luto, a partir de quarta-feira (20), pelas 50 pessoas que, segundo ele, foram mortas pelas forças de segurança durante as manifestações que se seguiram às contestadas eleições gerais de outubro.
Em um discurso transmitido, nesta terça-feira (19), pelo Facebook, acompanhado por dezenas de milhares de pessoas, Venâncio Mondlane voltou a exigir a recontagem dos votos das eleições de 9 de outubro que, segundo a Comissão Eleitoral, foi vencida por Daniel Chapo, do partido Frelimo, no poder em Moçambique há 49 anos.
"Perdemos 50 pessoas mortas pelas autoridades, que deveriam protegê-las", declarou Mondlane.
"Elas foram mortas como mártires de uma revolução, de uma mudança", acrescentou, denunciando mais uma vez resultados eleitorais, segundo ele, "fraudulentos". Mondlane discursou de um local não revelado, após ter afirmado, na semana passada, estar no exterior, dizendo temer por sua segurança.
Em discurso à nação, o presidente Filipe Nyusi, que deve passar o poder ao seu sucessor, Daniel Chapo, em janeiro, condenou o que chamou de uma "tentativa de instalar o caos em nosso país".
Segundo ele, 19 pessoas foram mortas nos confrontos, cinco delas policiais. Mais de 800 pessoas ficaram feridas, 66 delas policiais, acrescentou.
Nem a polícia, nem o governo confirmaram o número de mortos.
A ONG moçambicana Centro para a Democracia e os Direitos Humanos (CDD) contabilizou ao menos 65 mortos, afirmou à AFP seu encarregado, André Mulungo.
"Venâncio", como é conhecido, exorta seus apoiadores a vestirem preto nos três dias de luto e evitarem voltar às ruas sob o risco de serem visados pela polícia.
Oficialmente, este ex-apresentador de rádio de 50 anos obteve 20% dos votos, contra cerca de 71% para Daniel Chapo, que será empossado se o Conselho Constitucional confirmar os resultados do pleito ao menos duas semanas antes da cerimônia.
Nyusi apelou ao diálogo entre os dois principais candidatos e seus outros dois concorrentes, Ossufo Momade, do partido Renamo, e Lutero Simango, do Movimento Democrático Moçambicano (MDM).
"Todos os problemas podem ser resolvidos com a ajuda da compreensão mútua e a busca de consenso", avaliou.
Grupos de defesa dos direitos humanos denunciaram o uso de munição real contra os manifestantes da oposição.
"A polícia usa gás lacrimogêneo, balas de borracha ou reais, sob o pretexto de que se trata de garantir a ordem pública", denunciou Ivan Mausse, pesquisador da ONG anticorrupção Public Integrity Center (CIP).
* AFP