O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou nesta quinta-feira (14) que quer esclarecer "dúvidas e ambiguidades" sobre o programa nuclear da República Islâmica, ao receber o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, que exigiu que a cooperação com o Irã leve a "evitar a guerra".
No entanto, o chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, advertiu que Teerã não negociará "sob pressão ou intimidação" sobre o seu programa nuclear, e o chefe da Organização Iraniana de Energia Atômica, Mohammad Eslami, garantiu que a República Islâmica reagiria "imediatamente" a qualquer pressão externa.
A visita do diplomata argentino acontece uma semana após a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos que, durante seu primeiro mandato (2017-2021), promoveu uma política de "pressão máxima" contra Teerã, restabelecendo as sanções e retirando os Estados Unidos do acordo alcançado em 2015 entre Teerã e as grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.
"Estamos dispostos a cooperar [...] com esta organização internacional para resolver ambiguidades e supostas dúvidas relativas à atividade nuclear pacífica do nosso país", declarou o presidente Pezeshkian, citado em um comunicado.
No entanto, o chanceler Araghchi disse na rede social X que o Irã está "disposto a negociar com base em nossos interesses nacionais e nossos direitos inalienáveis, mas não estamos dispostos a negociar sob pressão ou intimidação". Araghchi foi um dos principais negociadores do acordo em 2015.
Elsami disse que "qualquer resolução intervencionista [por parte da AIEA] nas questões nucleares da República Islâmica do Irã será objeto de contramedidas imediatas".
O responsável aludiu a uma possível resolução crítica de Reino Unido, Alemanha e França durante o Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que acontecerá este mês.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado indicou que o que quer "ver do Irã é uma mudança de comportamento real e ação" após as declarações do presidente iraniano. "Queremos garantir que o Irã nunca disponha de uma arma nuclear."
- Evitar 'a guerra' -
Grossi considerou "indispensável obter resultados concretos [...] que mostrem que este trabalho em comum melhora a situação [...] e, de forma geral, nos afasta dos conflitos e, no final das contas, da guerra".
"As instalações nucleares do Irã não devem ser atacadas", insistiu o diplomata, poucos dias após o novo ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmar que a República Islâmica está "mais exposta do que nunca a ataques contra suas instalações nucleares".
Em 2015, o Irã e vários países, incluindo os Estados Unidos, assinaram em Viena um acordo após 21 meses de negociações. O texto previa uma flexibilização das sanções internacionais contra o Irã em troca de garantias de que o país não tentaria adquirir armas nucleares.
Teerã nega que seu programa nuclear tenha tais objetivos no plano militar.
Contudo, desde que Trump retirou os Estados Unidos do acordo em 2018, a República Islâmica aumentou consideravelmente suas reservas de urânio enriquecido a 60%, não muito longe dos 90% necessários para desenvolver a bomba atômica, segundo a AIEA.
O acordo limitava essa taxa a 3,65%.
O retorno de Grossi ao Irã, após uma visita em maio, acontece nesse contexto.
O diretor da AIEA afirmou que visitará na sexta-feira dois locais de enriquecimento de urânio no centro do país.
"Irei às importantes instalações de Fordo e Natanz" para "ter uma ideia completa da evolução do programa", declarou Grossi, segundo um vídeo transmitido pela AIEA à AFP.
- Câmeras desconectadas -
O Irã reduziu desde 2021 as inspeções em suas instalações nucleares. Câmeras de vigilância foram desconectadas e as credenciais de um grupo de especialistas foram retiradas.
Em 1970, o Irã ratificou o Tratado de Não-Proliferação (TNP), que obriga o país a declarar os materiais nucleares à AIEA e permitir que esta organização os controle.
Nos últimos anos, no entanto, vários líderes iranianos mencionaram publicamente a possibilidade de possuir uma bomba atômica como ferramenta de dissuasão, em um contexto de tensão com Israel.
O aiatolá Ali Khamenei, no poder desde 1989 e que tem a última palavra nas questões mais sensíveis do país, proibiu em um decreto religioso o recurso da arma atômica.
* AFP