Um bairro do centro histórico de San Juan, a capital de Porto Rico, é cenário de uma batalha legal pela retirada de alguns de seus habitantes mais emblemáticos: uma colônia de 150 gatos de rua cuja presença remonta, no mínimo, a meados do século passado.
Esses animais perambulam todos os dias pela zona do Morro, uma fortificação militar construída no século XVI, na época colonial espanhola. Para alguns, são uma atração turística e um símbolo do local; mas para outros, como o Serviço Americano de Parques Naturais (SPN), chegou a hora de expulsá-los.
Há dois anos, essa autoridade federal, que gere El Morro e seus arredores, apresentou um plano para retirar os felinos, alegando que eram "um possível vetor de doenças".
Em novembro de 2023, ante a falta de avanços, o SPN deu seis meses para que a "Save a Gato", uma ONG que há duas décadas cuida dos gatos de rua e os castra, encontre um abrigo para eles.
Se a associação não cumprir com o prazo, o serviço de parques contrataria uma empresa para encontrar outra solução, embora isso signifique "prender e sacrificar" os animais.
O anúncio indignou os defensores dos felinos, que acusam o governo federal - Porto Rico é um território americano não incorporado - de ser intransigente.
"Estamos dispostos a montar um plano que atenda suas preocupações, mas mantendo a vida e o bem-estar dos animais", diz Ana María Salicrup, secretária da junta de diretores da "Save a Gato".
A disputa chegou aos tribunais em março, quando a organização "Alley Cat Allies", de Maryland (nordeste dos EUA), entrou com um processo contra o projeto do SPN, alegando que violava a Lei Nacional de Política Ambiental.
A decisão levou a agência federal a interromper seu plano - cujo início estava previsto para 1º de outubro -, até que a Justiça decida sobre sua legalidade.
"Por alguma razão que nunca foi bem explicada, para os agentes federais, a única solução é matar os gatos. Isso é ilegal, desumano e não faz sentido", afirma Yonaton Aronoff, advogado da Alley Cat Allies.
Enquanto seu destino é resolvido nos tribunais, os gatos do Morro seguem lá. É impossível caminhar pelo bairro, margeado pela Baía de San Juan, sem se encontrar com eles. Há brancos, pretos, ruivos e tigrados.
Alguns observam os visitantes com receio; outros, mais atrevidos, se aproximam deles e recebem suas carícias.
Desde que surgiu a polêmica, muitos vizinhos, comerciantes e turistas se opuseram à remoção desses animais.
"Não me irritam, pelo contrário, me ajudam no negócio", diz Lucas Osorio, dono de uma loja na Velha San Juan. "Além disso, não há ratos aqui, nem pragas".
* AFP