Edmundo González Urrutia, candidato à presidência da Venezuela nas últimas eleições como oposição de Nicolás Maduro, deixou o país neste sábado (7) rumo à Espanha, onde pediu asilo político. Ele era alvo de mandado de prisão aceito pela justiça venezuelana em no último dia 2.
A saída de González Urrutia do país acontece em meio a uma crise iniciada com as eleições presidenciais nas quais Maduro foi oficialmente reeleito para um terceiro mandato de seis anos, apesar das denúncias de fraude apresentadas pela oposição.
Conforme o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, o venezuelano embarcou em um voo da Força Aérea espanhola. "Ele também solicitou para ser beneficiado pelo direito de asilo, que certamente o governo espanhol vai processar e conceder", acrescentou em publicação no X, antigo Twitter.
A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse que o opositor deixou o país com o aval da administração local. "No dia de hoje, 7 de setembro, saiu do país o cidadão opositor Edmundo González Urrutia, que, depois de se refugiar voluntariamente na embaixada do Reino de Espanha em Caracas há vários dias, solicitou a este governo a tramitação do asilo político", anunciou nas redes sociais.
— Confirmo que viajou para a Espanha" — declarou à AFP o advogado de González Urrutia, José Vicente Haro, sem revelar mais detalhes.
Uma fonte da oposição afirmou que Urrutia deixou a Venezuela com a esposa, Mercedes.
O diplomata de 75 anos, que estava escondido desde 30 de julho, reivindica a vitória nas eleições que, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), resultaram na reeleição de Maduro.
O CNE não divulgou as atas de votação de cada seção eleitoral, como a lei exige, alegando que seu sistema foi alvo de ataque de hackers.
Pedido de asilo
O opositor viajou para a Espanha em um avião da Força Aérea da Espanha, confirmou Albares, que disse ter conversado com González Urrutia antes da decolagem da aeronave.
— Reiterei mais uma vez o compromisso do governo da Espanha com os direitos políticos, a liberdade de expressão e manifestação e a integridade física de todos os venezuelanos — disse Albares.
No último sábado (7), o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chamou González Urrutia de "herói que a Espanha não vai abandonar", durante uma reunião do Partido Socialista em Madri.
A Justiça da Venezuela, acusada de servir ao chavismo, investiga Edmundo González pela divulgação de cópias das atas de votação em um site que atribui ao opositor a vitória na eleição presidencial.
A oposição liderada por María Corina Machado afirma que o site no qual digitalizaram as cópias das atas de votação obtidas por testemunhas nas seções eleitorais comprova a vitória de González Urrutia com mais de 60% dos votos.
O governo afirma que o material é fraudulento e repleto de inconsistências.
González Urrutia é alvo de um mandado de prisão e foi acusado de "conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem".
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou que fará "declarações importantes" em entrevista coletiva neste domingo.
Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina rejeitaram o resultado anunciado pelo CNE e pediram uma verificação dos votos.
Disputa
A proclamação da vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, com 52% dos votos, desencadeou protestos em todo o país que deixaram 27 mortos, 192 feridos e 2.400 detidos, incluindo mais de 100 menores de idade, embora 86 adolescentes tenham sido liberados sob medidas cautelares.
O presidente culpa Corina Machado, que também está escondida, e González Urrutia pela violência e pediu a prisão de ambos.
A saída de González Urrutia ofuscou a disputa de sábado entre Venezuela e Brasil sobre a permissão concedida ao governo brasileiro para representar a embaixada da Argentina em Caracas, onde seis colaboradores da oposição permanecem refugiados desde março.
Caracas revogou "de maneira imediata" a autorização concedida ao Brasil para representar a Argentina no país, após o rompimento das relações com Buenos Aires e várias capitais latino-americanas que questionavam a reeleição de Maduro.