O Hezbollah anunciou neste sábado (28) que seu líder, Hassan Nasrallah, morreu em um bombardeio israelense próximo a Beirute, um duro golpe para o movimento islamista libanês pró-Irã, que gerou condenações na região e ameaças de represálias contra Israel.
Para Israel, a morte de Nasrallah constitui uma grande vitória diante de seu arqui-inimigo Irã e seus aliados na região. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que se trata de um "ponto de virada histórico" na luta de seu país contra seus "inimigos".
"Acertamos nossas contas com o responsável pelo assassinato de inúmeros israelenses e muitos cidadãos de outros países, incluindo centenas de americanos e dezenas de franceses", disse Netanyahu, que advertiu que seguirá "atingindo" seus inimigos.
A morte na sexta-feira de Nasrallah, considerado o homem mais poderoso do Líbano, aumenta o risco de desestabilização do país e do Oriente Médio, quase um ano após a explosão da guerra na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas.
"Sayed Hassan Nasrallah se uniu a seus companheiros mártires (...) cuja marcha liderou durante quase 30 anos", anunciou o Hezbollah, quase 20 horas após o bombardeio israelense e depois de Israel informar sobre a eliminação do dirigente.
Israel continuou neste sábado suas operações no Líbano, e uma fonte de segurança libanesa relatou o bombardeio de um depósito próximo ao aeroporto de Beirute.
O Ministério da Saúde libanês anunciou que 33 pessoas morreram e 195 ficaram feridas nos intensos bombardeios israelenses contra o Líbano deste sábado.
Segundo um comunicado militar israelense, Ali Karaki, apresentado como o comandante da frente sul do Hezbollah, e outros dirigentes do movimento morreram ao lado de Nasrallah na operação que recebeu o nome "Nova Ordem". Uma fonte próxima ao Hezbollah confirmou a morte de Karaki.
O general Abbas Nilforoushan, do alto escalão da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã, também morreu no ataque, informou a agência oficial iraniana IRNA.
- "Uma medida de justiça", diz EUA -
"Nasrallah era um dos maiores inimigos de todos os tempos do Estado de Israel (...). Sua eliminação torna o mundo um lugar mais seguro", afirmou o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou neste sábado que a morte de Nasrallah era uma "medida de justiça para suas muitas vítimas, incluindo milhares de americanos, israelenses e civis libaneses".
Mais tarde, Biden disse que "é hora de um cessar-fogo" na região.
Hassan Nasrallah, de 64 anos, era venerado entre a comunidade xiita no Líbano. Líder do Hezbollah desde 1992, ele vivia escondido e fez raras aparições públicas nos últimos anos.
Após o anúncio da morte, gritos de indignação foram ouvidos em vários bairros de Beirute que abrigam os deslocados das áreas xiitas, e o Líbano decretou três dias de luto.
O Irã também decretou três dias de luto, e o primeiro vice-presidente iraniano, Mohamad Reza Aref, declarou que a morte de Nasrallah provocará "a destruição" de Israel.
Em Teerã, uma multidão se reuniu para expressar sua tristeza, e toda a cidade pendurou faixas com a mensagem "Hezbollah vive".
Este grupo islamista, financiado e armado pelo Irã, foi criado em 1982 por iniciativa da Guarda Revolucionária do Irã.
- Êxodo em massa -
O exército israelense iniciou na segunda-feira uma campanha de bombardeios em larga escala contra o Hezbollah no Líbano, após um ano de confrontos na fronteira com o movimento pró-Irã.
O Hezbollah abriu uma frente contra Israel no início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque contra o território israelense de seu aliado Hamas em 7 de outubro de 2023. Desde então, prometeu continuar "até o fim da agressão israelense em Gaza".
Israel afirma que, com os bombardeios no Líbano, pretende restabelecer a segurança no norte do país, alvo dos ataques do Hezbollah, e permitir o retorno de dezenas de milhares de habitantes que foram obrigados a fugir de suas casas.
Do outro lado da fronteira, mais de 50.000 pessoas fugiram do Líbano para a Síria devido aos bombardeios israelenses, e "mais de 200.000 estão deslocadas" dentro do país, segundo a ONU.
A Rússia, aliada do Irã, condenou o assassinato de Nasrallah e pediu a Israel que cesse suas operações militares no Líbano.
Para o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, Israel segue "uma política de genocídio desde 7 de outubro", cujo novo objetivo é "o Líbano e o povo libanês".
O grupo islamista palestino Hamas chamou o assassinato de Nasrallah de "ato terrorista covarde".
Os rebeldes huthis do Iêmen afirmaram que a morte do líder do Hezbollah "não será em vão" e reivindicaram o lançamento de um míssil contra o aeroporto israelense de Ben Gurion.
- "Ciclo de violência" -
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou estar "profundamente preocupado" com "a dramática escalada dos acontecimentos em Beirute nas últimas 24 horas". "Este ciclo de violência deve parar agora", defendeu.
Diante dos contínuos bombardeios, as autoridades europeias recomendaram que as companhias aéreas evitem o espaço aéreo do Líbano e de Israel pelo menos "até 31 de outubro".
Várias companhias anunciaram a suspensão dos seus voos para Beirute e Tel Aviv.
Um ano de confrontos entre Israel e o Hezbollah deixou mais de 1.640 mortes, um número de vítimas superior ao provocado pela última guerra entre os dois lados em 2006.
* AFP