O candidato republicano à presidência, Donald Trump, descreveu, detalhada e dramaticamente, na quinta-feira (18), a tentativa de assassinato que sofreu no sábado (13). Em seu primeiro discurso após o atentado, disse que sobreviveu "apenas pela graça do Deus Todo-Poderoso".
— Eu ouvi um som alto e senti algo me atingir muito, muito forte na orelha direita. Eu disse a mim mesmo: "Uau, o que foi isso? Só pode ser uma bala" — narrou Trump, que discursou por uma hora e 32 minutos no encerramento da Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, o mais longo discurso de aceitação de um grande partido na história recente dos EUA.
Ele continuou, descrevendo que moveu a mão para a orelha e a trouxe para baixo.
— Estava coberta de sangue, apenas, absolutamente, sangue por toda parte. Eu soube imediatamente que era muito sério, que estávamos sob ataque. E ainda assim, de certa forma, me senti muito seguro porque tinha Deus ao meu lado — disse, lembrando que, se não tivesse virado a cabeça para checar os números sobre imigração que estavam sendo exibidos em um telão atrás dele, "não estaria aqui".
Agentes do Serviço Secreto correram para o palco enquanto as balas voavam, pulando sobre ele para mantê-lo seguro, lembrou o ex-presidente norte-americano:
— A coisa incrível é que, antes do tiro, se eu não tivesse movido minha cabeça naquele último instante, a bala do assassino teria atingido seu alvo perfeitamente, e eu não estaria aqui esta noite. Nós não estaríamos juntos.
O candidato elogiou as ações de seus apoiadores no comício, dizendo que eles se viraram para procurar o atirador em vez de entrar em pânico:
— Eles sabiam que eu estava em apuros. Eles não queriam me deixar. E é possível ver ver esse amor estampado em seus rostos. Pessoas incríveis — disse Trump, ressaltamdo que tentou sinalizar para os apoiadores que estava bem. — Levantei meu braço direito, olhei para as milhares e milhares de pessoas que esperavam ansiosamente, e comecei a gritar: "Lutem, lutem, lutem!" — descreveu.
Com um uniforme dos bombeiros no palco, ele homenageou o apoiador Corey Comperator, bombeiro que morreu no ataque ao comício ao tentar proteger a família. O colete que foi enviado para a Convenção, no entanto, estava com a grafia de Comperator errada, sem o "a".
Críticas aos democratas
Enquanto descrevia o atentado e se solidarizava com as vítimas, Donald Trump defendeu que a discórdia e a divisão na sociedade americana precisam ser curadas. Mas ao virar o discurso para a corrida a Casa Branca, se voltou contra o Partido Democrata, que acusou de persegui-lo.
— Não devemos criminalizar a dissidência ou demonizar a discordância política — disse. — Nesse espírito, o Partido Democrata deve parar imediatamente de armar o sistema de justiça e rotular seu oponente político como um inimigo da democracia, especialmente porque isso não é verdade, na verdade, sou eu quem salva a democracia para o povo do nosso país.
Conteúdo e forma do discurso
Durante a semana, Trump disse à imprensa americana que rasgou o discurso programado para a Convenção e escreveu outro do zero após o atentado. Além do conteúdo em si, havia muita expectativa para a forma.
Na forma, começou com um tom mais emotivo, que se dissipou ao longo do discurso, e evitou citar Joe Biden nominalmente — quando o fez, foi sem os apelidos de sempre. No conteúdo, repetiu conhecidas alegações e foi subindo o tom de voz à medida em que avançava para os seus tópicos de costume.
Trump voltou a dizer, sem evidências, que os imigrantes vêm de prisões e instituições psiquiátricas, representando um risco para o país. Prometeu parar o que chama de "invasão" na fronteira e concluir o muro na fronteira com o México.
— No coração da plataforma republicana, está nossa promessa de acabar com esse pesadelo de fronteira e restaurar completamente as fronteiras sagradas e soberanas dos Estados Unidos — disse. — Faremos isso no primeiro dia. Isso significa duas coisas no primeiro dia, certo: perfurar, baby, perfurar e fechar nossas fronteiras.
Foi uma referência ao slogan de campanha do Partido Republicano em 2008 "drill, baby, drill", que defendia o aumento da perfuração de petróleo e gás como fontes de energia adicional.
Em outro tema que aborda com frequência, o processo eleitoral, repetiu as alegações infundadas sobre fraude, e disse que os democratas aproveitaram a pandemia para trapacear em 2020, quando foi derrotado por Biden.
Na política externa, disse que o mundo está "oscilando à beira da 3ª Guerra Mundial" e reafirmou que a Rússia não teria invadido a Ucrânia se ele estivesse na Casa Branca. Donald Trump ainda criticou o governo democrata pela retirada das tropas do Afeganistão, que terminou com 13 soldados americanos mortos, e prometeu trazer de volta os reféns do Hamas na guerra em Gaza.
Ao reverenciar J.D Vance, seu candidato a vice-presidente, Donald Trump sinalizou que aposta nele para o futuro do seu movimento Make America Great Again ao dizer:
— Você vai fazer isso por muito tempo.
O líder republicano foi acompanhando pela esposa, Melania Trump, que tem evitado os compromissos de campanha, e pela filha Ivanka. Elas não discursaram, mas subiram ao palco ao fim da convenção.
Chamando o episódio de "noite fatídica", Trump agradeceu a todos que permaneceram no local:
— Para o resto da minha vida, serei grato pelo amor demonstrado por aquele público gigante de patriotas que se mantiveram corajosamente naquela noite fatídica.
O republicano ainda enfatizou que não pretende contar novamente o momento em que quase perdeu a vida:
— Você nunca ouvirá isso de mim uma segunda vez, porque é realmente muito doloroso contar.